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Ponto por ponto

Bem acomodados na sala de jantar da Casa do Professor, eu e o meu amigo António discutíamos e partilhávamos assuntos da actualidade citadina, entre os quais se destacou a razoabilidade do investimento de 300 mil euros, mais 80 mil euros do que foi gasto no ano passado, para levar a “magia do Natal” (iluminação) a mais ruas da cidade de Braga.

Ponto um - Notei no semblante do António algum desconforto perante a quantia que estava em jogo. A imperceptibilidade era evidente, dado o aumento do investimento em relação ao ano transacto e dada a situação financeira da CMBraga. É claro que para um município que está nas lonas, que recorreu o mês passado a um empréstimo de 6 milhões de euros para resolver problemas de tesouraria e com compromissos financeiros de milhões de euros para pagar a curto prazo, investir 300 mil euros é um exercício de gestão que requer muito cuidado, ponderação e uma análise criteriosa para se evitarem mais despesas supérfluas e evita escavar-se ainda mais fundo a difícil situação financeira da edilidade. Sabemos que os políticos, mesmo os autárquicos, de um modo geral, pouco se interessam com os endividamentos ou com os problemas financeiros que deixarão para os que vierem a seguir. Esta prática laxista é normalíssima neste país, independentemente do partido que esteja no poder. No final, isto funciona assim: mais despesa política exige mais impostos às pessoas. Esta é a realidade!

Ponto dois - Contudo, o Natal é uma quadra muito especial para toda a gente. É uma quadra de festividades que merece ser vivida de uma forma mais intensa e mais descomprometida, uma vez que as emoções e os sentimentos estão mais longe das zonas racionais do homem. Depois temos a tradição e os costumes a comandar as bolsas e a impor os apetites consumistas que se tornam irresistíveis. Se lhe juntarmos os olhos para apreciar a iluminação pública e a atmosfera de generosidade própria do espírito da quadra, o cenário fica muito bem composto. Daí, entender-se naturalmente alguns excessos. E neste ponto de vista, a Câmara Municipal fez bem em associar-se às festas natalícias, mesmo gastando esta e outras exorbitâncias. O mal da gestão camarária não está no Natal e nos apliques, mas no dia-a-dia e na falta de rigor e de respeito pelo dinheiro dos contribuintes. Os políticos gostam de gastar e adoram a demagogia.

Ponto três - Contas feitas e com o dinheiro a sair dos cofres aos trambolhões é sempre bom perguntar: haverá retorno dos 300 mil euros investidos? Neste campo e para justificar a despesa há sempre outras vertentes a ter em conta: a promoção da cidade; a dinamização do comércio local e da restauração; a forte possibilidade de visitas aos seus museus e monumentos; a alegria e o movimento das pessoas que se espalham pelas ruas e pelas praças da cidade. Estas mais-valias são, de facto, significativas e a considerar numa capital regional que se quer afirmar no noroeste peninsular e que tem grandes potencialidades turísticas para oferecer. E o Natal também é uma boa oportunidade para incrementar dinamismo e outra abertura à cidade.

Ponto quatro - A discussão acerca deste investimento camarário não tem muito sentido e logo na época natalícia. A discussão deverá descair para o problema dos endividamentos e da má gestão do dinheiro dos contribuintes no complexo sistema da edilidade. E este, grosso modo, tem sido mal pensado e mal gerido.

As minhas incompreensões, portanto, não estão nestas questões. Mas, nestas: Como é possível que seis anos depois a comandar os destinos do município de Braga, Ricardo Rio, economista de formação, permitir que os cofres da edilidade estejam depenados? Como é possível haver problemas de tesouraria, sinal claro de falência técnica, e não se tomarem medidas rigorosas para lhe pôr cobro? Como é possível os mandantes da cidade deixarem que a dívida se instale e até se avolume? Não haverá ninguém na CMBraga com sensatez e capacidade de gestão suficientes para inverter o estado miserável das suas finanças?

Srs. Autarcas governem a CMBraga como governam a vossa economia caseira. Habituem-se a gastar menos do que arrecadam, pois quem poupa tem o seu futuro e o futuro dos seus garantido. Já é tempo de ver o município de Braga com outro ar e com uma outra imagem.


Autor: Armindo Oliveira
DM

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8 dezembro 2019