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O aniversário da Liberdade

1 – Não sei quem foi que disse (suponho que foi Lenine) que «uma mentira mil vezes repetida passa a ser uma verdade». Seja quem for o autor da frase, acho que tinha razão. Os exemplos podem ser muitos, mas a aproximação do dia 25 de Novembro sugere-me este que vou usar.

2 – É uma afirmação genericamente aceite, incontestada, tida como verdade dogmática e, por isso, indiscutível que o dia 25 de Abril de 1974 foi o dia da restauração da Democracia e da devolução da Liberdade ao Povo Português. É uma mentira que não mil, mas milhões de vezes repetida, acabou em verdade pacificamente aceite. Ou melhor: em embuste institucionalizado.

Nesse dia, o que aconteceu foi um simples golpe de Estado que prometia a Democracia e destinado a derrubar uma ditadura de 48 anos para, desse modo, acabar com a guerra da África, mas que imediatamente se transformou numa revolução que pretendia substituir a ditadura caída por outra mais feroz e mais dura que fizesse de Portugal um satélite (mais um!) da então União Soviética.

O que se seguiu foi a mais completa antítese de tudo o que seja Democracia e Liberdade: o direito de propriedade ignorado e violado; casas assaltadas e ocupadas; herdades e quintas bem tratadas e produtivas apropriadas por trabalhadores, enquanto as terras abandonadas assim continuavam; as casas dos proprietários invadidas e devassadas na sua intimidade – cartas, fotografias, roupas; «saneamentos», isto é, expulsão pura e simples do posto de trabalho, feita por «tribunais» «ad hoc», sem processo nem provas; prisões sem culpa formada; ordens de prisão assinadas em branco; presos políticos novos que, depressa, superaram em número os recentemente libertados pela revolução; pequenos aforradores a levarem para Espanha, a salto, as suas economias; um generalizado clima de terror que levou pacíficos cidadãos a fugir do país – nomeadamente empresários e académicos. Enfim, um processo em que os mais elementares direitos humanos eram quotidianamente espezinhados.

3 – Liderados por Mário Soares, Francisco Sá Carneiro e Freitas do Amaral vários grupos de cidadãos destacaram-se de uma sociedade civil amedrontada e inerte, resistindo à tentativa de nova ditadura e apelando para militares do 25 de Abril como eles partidários de uma sociedade livre e democrática – com as várias vertentes que isso possa comportar.

4 – Assim, ao fim de 19 meses de tentativa ditatorial, se chega ao dia 25 de Novembro de 1975. Aí se dá novo golpe militar (ou contra golpe – segundo alguns) em que se separam as águas: de um lado os que genuinamente queriam uma Liberdade e do outro os que dela faziam bandeira, pretexto e embuste para nova ditadura. Venceram os primeiros – civis e militares.

5 – Foi nesse dia – e só nesse dia – que a Liberdade foi devolvida ao Povo Português e com ela a possibilidade de escolher – como escolheu na Assembleia Constituinte libertada – viver em Democracia. Esta é a verdade e a verdade é só uma. O resto são mentiras politicamente correctas e …saudosas do P.R.E.C.

Ao aproximar-se o 44.º aniversário dessa devolução e dessa restauração, é justo repor a verdade e com ela prestar homenagem àqueles a quem devemos – verdadeiramente! – a Liberdade política que temos e a Democracia, mesmo imperfeita, em que vivemos.

Nota: por decisão do autor este texto não obedece ao impropriamente chamado acordo ortográfico.


Autor: M. Moura Pacheco
DM

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21 novembro 2019