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O Governador

Nestes tempos de políticos de plástico, onde o populismo, a política de interesses, a superficialidade das redes sociais e do politicamente correto avançam de forma assustadora, é cada vez mais importante demonstrar que também existe o oposto e há pessoas cujo pensamento, exemplo de vida e principalmente prática política são autênticas referências públicas.

O D.r Fernando Alberto, como é chamado no Norte, ou o Dr. Ribeiro da Silva, como é chamado mais a Sul, que, em ditadura apoiou Humberto Delgado e em democracia foi deputado à Assembleia Constituinte e Governador Civil de Braga, é uma dessas referências que o nosso distrito e o mundo, felizmente, têm.

São sobejamente conhecidos a sua integridade, os seus valores pessoais, a intensidade da sua personalidade que transportou para a sua actividade partidária e como Governador Civil, onde exerceu um poder com muita força política, que ultrapassou em muito as fronteiras do Distrito de Braga. Não foi por acaso que foi alvo de várias homenagens públicas, medalhado por três Presidentes da República e pelo executivo socialista da sua querida cidade, tendo sido convidado para Ministro várias vezes e foi o Governador Civil que mais tempo esteve no cargo em Portugal depois da Revolução de 1974.

Com este palmarés, difícil de igualar, é considerado o Governador do Portugal Democrático.

Fernando Alberto Matos Ribeiro da Silva que, enquanto Presidente da Distrital de Braga do PSD lhe deu o maior peso nacional que teve até hoje, representa também o PSD de Sá Carneiro, constituído por pessoas relevantes na sua terra, com profissão e prestígio, priorizando Portugal e a democracia, o PSD estruturalmente humanista, liberal do ponto de vista político, com a social democracia à portuguesa e encarnando os valores nobres da política como serviço aos outros, tendo no desenvolvimento da pessoa o núcleo central da sua política.

Cavaco Silva, por outro lado, de quem é política e pessoalmente muito próximo, sabe muito bem da sua decisiva importância na vitória no Congresso da Figueira da Foz e no sucesso do seu percurso político, como todas as biografias o confirmam.

Fruto de uma amizade herdada de meu pai, tenho o privilégio, – mais do que isso, é mesmo um grande património pessoal – ter o Dr. Fernando Alberto como um dos grandes amigos da minha vida, perdoe o leitor a pessoalidade. Guardo como um tesouro as inúmeras situações e conversas que com ele tive e basta referir algumas delas para ser percetível a sua riqueza pessoal e como homem público:

Uma vez disse-me: “Quim, não é a investidura de determinado cargo público que demonstra o que valemos. Nessa ocasião são fáceis as felicitações, os abraços e as palmadas nas costas. O que verdadeiramente conta é à saída, quando deixamos de o exercer. Aí, pela atitude das pessoas para connosco, é que se vê o valor do que fizemos e a maneira como marcamos, positivamente ou não as suas vidas”.

Em plena crise do Vale do Ave dos anos 90, por mais ruidosas e furiosas que fossem as manifestações da CGTP a ministros de Cavaco Silva, o silêncio súbito, o respeito e a consideração que os manifestantes e os dirigentes da CGTP demonstravam sempre que o Governador surgia, revela bem a estima que tinham pelo seu trabalho como, aliás, os dirigentes sindicais declararam publicamente várias vezes.

Para acabar estes exemplos, com os quais até me comovo quando os recordo, porque os vivi, há outro ensinamento do Dr. Fernando Alberto que nunca esqueci: “Quando nos consideram importantes em função do lugar que ocupamos, isso de pouco vale. O que verdadeiramente vale, do ponto de vista pessoal, é quando o lugar que ocupamos tem relevância por ser ocupado por nós”. Há dias, num usual almoço mensal com amigos, disse com uma simplicidade desconcertante: “Só ganha eleições quem tem a simpatia do povo. E ganhar a simpatia do povo dá muito trabalho”.

Este texto é demasiado pequeno para referir, em pleno, o valor político e pessoal do Dr. Fernando Alberto e, muito melhor do que eu, o podem confirmar muitos dos seus amigos e pessoas que com ele têm o privilégio de se cruzar na vida.


Autor: Joaquim Barbosa
DM

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20 novembro 2019