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O «penso rápido» e os que «pensam rápido»

1. Nós, que aprendemos tantas coisas, talvez não percebamos que estamos a desaprender outras tantas. Uma delas é que vivemos numa sociedade que parece ter desaprendido de esperar. 2. É sabido que nada nos incomoda tanto como quando nos pedem para esperar. Tendemos a achar que esperar é uma perda de tempo quando, no fundo, poderá ser o melhor investimento que fazemos no tempo. 3. Ao invés, propendemos a confundir acção com mera agitação. Esquecemos que – parafraseando D. António Ferreira Gomes – nada é tão paralisante como a agitação. 4. Não foi em vão – nem por acaso – que Javier Aranguren notou que a pressa é uma das doenças do nosso tempo. Acontece que, por instinto, dificilmente reconhecemos a pressa como doença. Pelo contrário, até a apontamos como uma mais-valia. 5. Andar depressa, chegar depressa, ser atendido depressa. Eis – entre outras – situações que valorizamos muito positivamente. Será, porém, que tanta pressa nos beneficia e humaniza? Gostamos muito de soluções tipo «penso rápido». São expedientes que vão tapando feridas. Mas as doenças persistem. 6. Uma instituição não funciona? O que mais «depressa» nos vem à mente é trocar de dirigentes atrás de dirigentes sem cuidar de ir ao encontro das razões do não-funcionamento ou do mau funcionamento. Este obsessivo recurso a soluções «penso rápido» está muito ligado à nossa tremenda dificuldade em – verdadeiramente – pensar. 7. Pensar reclama muito tempo. Implica pesar prós e contras, posições e objecções, propostas e contrapostas. Não admira, aliás, que Kant tenha levado mais de dez anos a elaborar a «Crítica da Razão Pura». 8. O acto de pensar desagua no discurso, mas não pode dispensar jamais a escuta. Só que este é o (magno) problema. A nossa capacidade para escutar é muito limitada, para não dizer nula. Quando muito, limitamo-nos a apreciar os que «pensam rápido» e os que — mais rapidamente ainda — expõem o que pensam. 9. Moderar uma reunião, um debate e até uma sessão parlamentar resume-se, frequentemente, a «cortar a palavra». «O seu tempo acabou». É o que mais se ouve nos tempos que correm. Ou voam! Sucede que as grandes mudanças que enfrentamos não se compadecem com soluções do género «penso rápido» nem com chavões que saem dos que «pensam rápido». 10. Alteremos, então, o padrão. Em vez de interromper quem pensa, habituemo-nos a prolongar a escuta dos que pensam. Em vez de cortar a palavra, acostumemo-nos a acolher a palavra. O mundo não sobrevive com adiamentos. Mas também não evolui com pressas ou à pressão. É preciso saber parar para melhor conseguirmos caminhar!
Autor: Pe. João António Pinheiro Teixeira
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12 novembro 2019