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Quando o homenageado se sente o devedor! Cónego João Aguiar Campos

Terras de Bouro prestou na tarde de 20 de Outubro, no Museu do Campo de Gerês, sito na freguesia natal do homenageado, uma sentida homenagem de gratidão a um dos seus mais ilustres cidadãos: o Cónego João Aguiar Campos. Além das notícias já saídas na imprensa e no digital, queria realçar alguns dos aspectos que mais me marcaram naquela linda tarde de Outono, porque a estatura do Homenageado se vê precisamente na maneira como recebeu a distinção concelhia: Medalha de Mérito em Ouro. Assinalavam-se os 505 anos da outorga do foral por D. Manuel I. E a acompanhar-nos e incentivar-nos à festa tivemos a Banda Musical da Carvalheira, uma das aldeias de Terras de Bouro, que também tem um outro nome maior, o padre Martins Capela, ilustre arqueólogo e professor. É digno de registo o facto de a Banda ter já nada menos de 180 anos de actividade ininterrupta. É mais que obra para uma Banda de uma aldeia perdida na serra. É a banda de música mais antiga do País que se mantém em actividade. Uma vez na sala grande do complexo para dar lugar à sessão solene, seguiram-se as saudações da praxe e uma alusão ao Dia do Município e da outorga do Foral. O Presidente da Câmara, Manuel Tibo, depois de explicar o que se estava a celebrar, e ter palavras de espcial apreço pelo homenageado, deu a palavra ao Dr. Pedro Leal, Director Geral da Rádio Renascença, que traçou o perfil do homenageado, uma vez que muito do seu labor foi dedicado à Rádio Renascença, primeiro em Braga e no Porto e, depois, em Lisboa, como Presidente do Conselho de Gerência. Pedro Leal destacou a visão de futuro de João Aguiar, a aposta no digital e no multimedia, as novas instalações, mas sobretudo o humanismo do cónego João Aguiar, revelado em dois pormenores. O primeiro na relação com o próprio apresentador quando foi acometido de doença grave e teve que se sujeitar a melindrosa operação cirúrgica. Ainda a residir no Porto, logo no dia imediato à operação, recebeu a visita do amigo padre João que, de Lisboa, se deslocou propositadamente para o confortar e incentivar no combate à doença. O segundo, deveras revelador da mais funda preocupação do padre João. Nos anos dificílimos da troika, com a crise agravada dos meios de comunicação social e a inevitável necessidade de redução de postos de trabalho para que a empresa pudesse ter viabilidade, a grande preocupação do Presidente do Conselho de Gerência foi a de que nenhum dos profissionais a dispensar ficasse condenado a passar fome, sobretudo quando havia dois membros da mesma família na empresa. Sentiu-se nas palavras de Pedro Leal que este lado profundamente humano e que incarna como niguém o melhor espírito da Doutrina Social da Igreja era o que mais marcas tinha deixado em todos, como aliás o pude testemunhar há meses, quando uma embaixada de 13 elementos se deslocou de Lisboa para fazer uma agradável surpresa ao padre João, contando com a cumplicidade do grupo de amigos com quem ele faz gosto de almoçar uma vez por mês. Agora, sim, podem verificar como são verdadeiras as palavras como começou o agradecimento pela distinção concedida pelo Município: «Este concelho – a minha terra – não me deve nada e, por isso, nada tem para me agradecer. Na verdade – e muito honestamente – o devedor sou eu!..» Depois de descrever, com a beleza inconfundível que lhe é muito peculiar, o que significa ser de Terras de Bouro, conclui: «Peço-vos que ameis esta terra, garantindo-lhe presente e futuro. Semeando afecto e respeito pelo nosso passado e pela cultura. Sim, pela Cultura.» E por isso se alegrava com a apresentação do livro «Nomadismo da alma», livro de fotografias de excepcional qualidade, vertendo para o papel locais emblemáticos da Serra do Gerês e para 5 das quais escreveu 5 belíssimos poemas. Reproduzo dois deles: «Caminhos Podem vir de longe os caminhos que hoje te chamam e longe te querem levar. Rasgados por outros sonhos, é o teu desejo que agora esperam: se não os enches de passos, envelhecem e morrem. Nos caminhos onde ninguém canta, arranham as silvas!... » «Sede Mata a tua sede na concha da minha mão. Guardei para ti e para o calor do teu verão a fartura escorrida das trovoadas que me abalaram. Bebe, porque nestas águas se lavou a luz na manhã dos primeiros dias. E, de certeza certa, foi sobre elas que o Princípio no princípio passeou!...» Como ele mesmo refere em texto recente, mais do que estar bem, importa estar de bem. De bem com Deus, com os homens e com a natureza. Essa é a melhor forma de estar bem. Oxalá, caro João Aguiar, nos continues a brindar muitos mais dias com os teus luminosos textos.
Autor: Carlos Nuno Vaz
DM

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26 outubro 2019