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O Povo CDS

Maria de Fátima Bonifácio publica no Jornal Público do dia 17 de Outubro de 2019 um artigo com o título de “A Crise”, onde escreve no último parágrafo que a queda brutal do CDS nas eleições de 06 de Outubro se deve ao facto de o partido não ter um “povo” CDS. Diz a historiadora que não existe um “povo CDS”, pois…, a minha opinião divide-se quanto a esta afirmação, se tenho uma parte de mim que a aceita, tenho uma outra que a nega.

Passo a explicar: o Centro Democrático Social – CDS, fundado a 19 de Julho de 1974, é o segundo partido político a ser legalizado após a revolução de Abril; porém, logo após a sua fundação é perseguido, as suas sedes são invadidas por diversas vezes e no seu primeiro Congresso, em Janeiro de 1975, o CDS foi vítima da extrema-esquerda, que cercou o edifício do Palácio de Cristal no Porto e tentou a sua invasão, estando sob sequestro, no seu interior, durante 15 horas, mais de 700 militantes congressistas e seus convidados. Aos gritos de “morte aos fascistas”, instalou-se uma batalha campal entre a extrema-esquerda e a polícia. Tiros e “cocktails” voaram contra o edifício, carros incendiados e vários feridos, foram o resultado destas 15 horas de cerco.

Este “povo” CDS resistiu e continuou a resistir todos os dias, mesmo com os insultos e tentativas de agressão ou agressões na rua, no trabalho e nas campanhas eleitorais. Contudo, se alguém pensar que isto passou, porque agora vivemos numa democracia madura e bem formada, desengane-se!

Convido-os a fazerem uma campanha eleitoral pelo CDS, tal como eu fiz em Setembro e Outubro de 2019, e vai ouvir os mesmos insultos que os meus pais e os seus companheiros de partido ouviam em 1975 e nos anos seguintes. Prova disso foram as tentativas de agressão no Porto a Assunção Cristas ou à comitiva de campanha distrital no mercado de Guimarães.

Mas o CDS tem outro “povo”, é um partido único na democracia portuguesa, na medida em que teve antigos líderes que saíram para outros partidos ou formaram novos partidos, caso de Diogo Freitas do Amaral, Francisco Lucas Pires, Basílio Horta ou Manuel Monteiro. E só para mencionar os líderes nacionais, porque nos locais também temos alguns exemplos.

É um partido em que alguns dos seus dirigentes julgam ser superiores ao próprio partido, procurando impor as suas metas pessoais e entendendo que o partido só serve para ser instrumentalizado por si e para si.

Estes não são de facto “povo” CDS, são indivíduos, como muito bem diz Adriano Moreira, sem eixo, são rodas que se limitam a fazer o caminho do momento, são gente sem escala de valores e cujo percurso feito no CDS poderia ter sido percorrido em qualquer outro partido. Mas mesmo em qualquer outro!

O “povo” CDS é o povo que não deixa cair o partido em momentos complicados, que diz sempre presente, porque sabe que neste partido estão os valores e os ideais em que acreditam, não só para si como para Portugal. São fortes, resilientes e bem resolvidos com as suas convicções, são a tal gente com eixo e roda de que Adriano Moreira fala, são aqueles que lutam por algo que é superior a si, a causa de todos, um Portugal democrático e de valores humanistas.

São os que acreditam num partido com história e acções reconhecidas para que hoje todos possamos viver em liberdade, democracia e economia livre. São aqueles que viram o partido não fugir às responsabilidades em momentos de grave crise para o país, tal como em 1978 ou 2011. São os que entendem a missão nacional do CDS, fortalecendo-o a partir das Freguesias, Concelhos e Distritos.

O “povo” CDS são os 221.774 votantes a nível nacional que não deixaram de lutar para que o CDS mantivesse representação na Assembleia da República e continuasse a fazer valer a sua voz, contra os previsíveis inimigos externos e contra os conhecidos “amigos” internos.

O “povo” CDS foram os que disseram presente e avançaram para os dois actos eleitorais de 2019, sem hesitações e com coragem, trabalhando para que o partido continuasse a resistir, firmes nas convicções e determinados nos gestos. Por isso Maria de Fátima Bonifácio, o CDS tem o seu “povo” e que orgulho eu tenho em ver que o meu partido ainda tem povo com eixo e roda.


Autor: Gonçalo Pimenta de Castro
DM

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26 outubro 2019