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O jornalismo de investigação

O jornalismo que investiga abusos de poder, compadrio, falsificações, enriquecimentos injustificados, crimes económicos e outros de igual jaez, traz na sua génese a marca do indesejável para os prevaricadores e a marca do desejável para quem quer saber a verdade. O jornalismo, é apenas tolerado, mesmo que seja apenas noticioso, mas quando “ousa” contar a verdade, mesmo que para isso seja preciso por a notícia na ferida, então, para quem prevarica, o jornalismo é odioso. A liberdade de imprensa não é apenas um direito constitucional mas assume-se como um direito de cidadania. Os mandantes não gostam do jornalismo a não ser dos pasquins amestrados, o das palavras redondas, o de hipocrisias e seus arautos. Tudo o que saia da sua área de gaiola, é rotulado de impertinente, mentiroso, tendencioso. Se voltássemos ao tempo de censura é que era bom, sonham nos silêncios da impotência todos aqueles que gostam de fazer pela calada as suas orgias do quero posso e mando. Veja-se o que se passou e passa com o programa de investigação de Sandra Felgueiras e Ana Leal. Têm, a fazer fé no que li, em tribunal queixas contra os seus programas. Se as denúncias feitas não correspondem à verdade, então têm que assumir as responsabilidades das denúncias. Ao que se tem apreciado parece que as jornalistas em causa têm em suas mãos documentos e factos substantivos que suportam as denúncias. Se é verdade que se não pode denunciar sem provas sólidas, também é verdade que se não pode calar aquilo que não é de calar. Penso que o jornalismo de investigação está para a informação social como o ministério público está para os tribunais. Ambos escutam, inquerem, reúnem provas para os tribunais poderem julgar sobre verdades e não sobre especulações ou subjetividades. É um jornalismo muito melindroso porque entre uma verdade comprovada e uma distorção dos factos vai a habilidade do contorcionista das leis e suas leituras “metafísicas”. Mas verdades são verdades, o resto é ilusionismo de palavras. Nenhum governo gosta da liberdade da comunicação. Não é por acaso que nos regimes totalitários a imprensa é sujeita a censura prévia! O filtro político existe para domesticar a imprensa e colocá-la a seu favor. Isto é assim nesses estados totalitários menos nos que optaram e vivem em democracia. A imprensa tem olhos que vêem e denunciam, alma que sente os abusos e denuncia, e mãos que escrevem denunciando. Contra isto só calando este tipo de comunicação. Lembram-se do jornalista Bandarra? Calaram-no porque incomodava com suas denúncias judiciais. Vão calar a Sandra Felgueiras porque incomoda muita gente e os acionistas calarão mais tarde ou mais cedo a Ana Leal pelas razões dos dois mencionados. Temos que ter uma informação “educadinha” porque uma informação independente é sempre uma informação travessa quando não subversiva. Subversiva sendo democrática, justa e verdadeira. Suspirem comigo que é o que se faz quando se é impotente para travar a água da corrente barrenta. Abençoada a informação que se limita a dizer os preços das nabiças.


Autor: Paulo Fafe
DM

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21 outubro 2019