twitter

Valor político das greves

Politicamente quanto valem as greves? O resultado das últimas eleições levaram-me a concluir que as greves pouco ou nada afetaram o governo socialista. Houve greve dos professores, dos enfermeiros, dos camionistas de matérias perigosas, da magistratura, de sei lá que mais, e pelos vistos em nada influenciaram a votação no partido socialista. A sua vitória foi expressiva e não há margem para raciocínios enviesados ou especulações subjetivas. A verdade é esta e os números não mentem: as diversas greves que se realizaram durante o governo de António Costa, não serviram ou foram meio de o prejudicar na contagem de votos. Sendo assim, as greves não têm valor político ficando-se pelo valor lesivo de quem as suporta Os pais ficam lesados pelo fecho das escolas, logo são contra os professores; os doentes lesados são, pela falta de cuidados de enfermagem, contra a greve dos profissionais da saúde; a falta de combustíveis lesa um país inteiro, logo são contra a greve dos transportadores de matérias perigosas. A greve de magistrados, funcionários de qualquer ramo de atividade, notariado e similares, como não lesam diretamente ninguém, apenas incomodam alguns, têm a indiferença geral, logo não beliscam sequer a imagem da governação. Assim há greves e greves. Ambas são direito dos trabalhadores, mas há umas que são mais potentes que outras. É um facto e contra factos não há argumentos. Os sindicatos têm de pensar muito nesta questão e talvez modificar as suas estratégias. A greve é contra o empregador mas é preciso cuidar de ver até que ponto as reivindicações não ultrapassam as disponibilidades da empresa Quando dizem que o lucro é um esbulho ou algo que deve ser olhado como exploração, é preciso lembrar que se não fosse na mira do lucro não haveria investimento. O que se deve exigir do capital é que pague de acordo com o estabelecido no contrato de trabalho. De ano a ano se fazem negociações nesse sentido. Foi fácil aumentar salários e fazê-los refletir nos preços mas, com a globalização, os produtos nacionais já não estão sozinhos nos mercados; estão em competição com os preços e qualidade dos estrangeiros e ninguém compra por patriotismo. Se o PS tivesse sido prejudicado nas últimas eleições legislativas, então diríamos todos que foram os sindicatos que influenciaram. Mas como não prejudicaram, temos de retirar aos sindicatos essa influência política; logo, os sindicatos foram os grandes perdedores do dia 6 de outubro, embora nenhum comentador o tivesse dito; a verdade é que as suas ações deveriam derrotar o PS; os professores são muitos e têm família, assim os enfermeiros, os motoristas, os juristas, etc. etc. Foi contra o PS que as greves se fizeram e, se não surtiram qualquer efeito, é porque a causa é pior que o efeito. Em português coloquial poderemos dizer desta maneira: os eleitores estiveram-se nas tintas para as reivindicações sindicais. A fazer especulação sobre esta dedução, podemos dizer que até os próprios trabalhadores lesados, votaram PS.


Autor: Paulo Fafe
DM

DM

14 outubro 2019