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“Doha” a quem doer…

O último campeonato do mundo de atletismo (17ª edição, organizada pela IAAF) realizou-se em Doha, capital do Qatar, que fica localizada na Costa do Golfo Pérsico. Este campeonato do mundo revestia-se de algumas caraterísticas muito duras para os participantes, nomeadamente no que respeita às temperaturas e humidade muito elevadas.

O Qatar é um dos países mais ricos do mundo e foram reunidas excelentes condições para os atletas, nomeadamente a criação de um estádio com ar condicionado. Dentro do estádio, a competição foi envolvida por uma série de pormenores fenomenais e foi, em alguns aspetos, um espetáculo televisivo extraordinário. No entanto, a falta de público foi muito evidente, essencialmente porque a cultura desportiva nesta zona do globo é muito pobre. Tal como foi pobre o apoio dos locais. Os espetadores eram maioritariamente provenientes de alguns países vizinhos, mas o número de espetadores locais foi ínfimo.

De facto, eu sou apologista que as organizações internacionais, com responsabilidade nessas decisões, devem avaliar bem as condições e, dentro do possível, variar os países organizadores das grandes competições, de forma a divulgar, promover e ver florescer as dinâmicas nas diferentes modalidades, mas se os agentes locais, nomeadamente o público, não estiver presente, o impacto e o legado de se organizarem eventos desta natureza fica muito reduzido.

Constatamos, facilmente, que o Qatar deu uma lição de modernidade e capacidade financeira, mas não chega só organizar, é preciso encetar dinâmicas e estratégias que promovam, de facto, os eventos e os transformem em momentos marcantes, essencialmente para os países que os organizam.

Há quem afirme, que o Qatar só organizou o campeonato do mundo do atletismo, porque irá organizar o de futebol e queriam demonstrar capacidade organizativa e competência para grandes eventos. No entanto, a organização de um campeonato de futebol, não é exatamente igual a organizar um desporto que necessita de provas de exterior, sujeitas a condições extremas de esforço, como são a maratona e as provas de marcha. Na realidade, a IAAF, correu um risco muito grande em organizar estas competições no Qatar.

Foram tomadas algumas medidas extraordinárias, nomeadamente realizar as provas durante a noite, em que as temperaturas são mais baixas, mas o índice de humidade, associado à temperatura, foram dois fatores de risco, muito elevado, dos organizadores. Em face destas condições, foi uma sorte não ter morrido ninguém.

Por outro lado, a “frieza” dessas provas foram constrangedoras. Provas sem público, sem palmas, sem apoio aos atletas. Eventualmente, não era totalmente descabido, mobilizar outro País, outro organizador, para realizar estas provas, num programa tão extenso e diversificado como aquele que o atletismo reúne, penso que todos ficariam a ganhar. Doeu, ver o sofrimento dos atletas e os cenários que envolveram estas provas.

Também o doping, apesar dos esforços das entidades competentes, manchou, mais uma vez, o atletismo. Durante o evento, o treinador Alberto Salazar foi expulso da competição depois de receber uma notificação, de uma entidade dos USA, de castigo por uso e tráfico de substâncias dopantes. E neste aspeto, as medidas devem ser rigorosas e as punições severas, com tolerância “zero”…Doa a quem doer.


Autor: Carlos Dias
DM

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11 outubro 2019