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Os lugares e as pessoas são as verdadeiras fontes da verdade

A primeira aparição de Nossa Senhora, no dia 13 de Maio de 1917, foi num domingo, dia de sol a raiar, propiciando e dando vida às beldades da natureza com as suas cores de rara beleza e seus perfumes de aromas deleitosos. Os pastorinhos, após cumprirem o preceito dominical, como sempre o fizeram, assistindo à missa na Igreja Matriz, saíram calmamente com os seus rebanhos, colaborando com os seus pais no sustento do lar, obedientes e alegres nestes trabalhos que quotidianamente desempenhavam.

Enquanto guardavam o rebanho, costumavam brincar e alegrar-se com os jogos inventados, imaginados por eles de acordo com o que lhes propiciavam os locais, mas sempre atentos ao seu gado que se deliciava com os pastos verdes que na primavera abundavam por aqueles lados da Cova da Iria.

Inquietados, apesar do céu límpido, por um relâmpago, pois receavam que a trovoada surgisse, Lúcia propôs o regresso a casa, ciente também da saciedade dos seus rebanhos. Iniciam, então, a descida pelo carreiro que ligava a uma estrada, em macadame, em direção a Aljustrel e, ao passar junto da azinheira grande, que hoje ainda lá se encontra como relíquia, eis que surge outro relâmpago que lhes fere a vista, sendo por causa destes relâmpagos, de possíveis trovoadas e de chuva que os pastorinhos regressavam a casa a toda a pressa.

Apesar disso, tudo aquilo era o prenúncio da visita de Nossa Senhora que estava prestes a aparecer-lhes. Uma luz cada vez mais brilhante conduziu o seu olhar para o cimo da azinheira onde depararam com uma Mulher Formosa, vestida toda de branco… «parámos surpreendidos pela aparição. Estávamos tão perto que ficávamos dentro da luz que A cercava ou que Ela espargia, talvez a metro e meio de distância, mais ou menos.»

Inicia-se, então, o diálogo entre Nossa Senhora e os pastorinhos que já está suficientemente divulgado, deixando, aqui, apenas, algumas passagens: «…Vim para vos pedir que venhais aqui seis meses seguidos, no dia 13, a esta hora. Depois vos direi Quem sou e o que quero. Depois voltarei ainda aqui uma sétima vez… Ides ter muito que sofrer, mas a graça de Deus será o vosso conforto… Foi ao pronunciar estas palavras que abriu pela primeira vez as mãos comunicando-nos uma luz tão íntima… penetrando-nos no peito e no mais íntimo da alma, fazendo-nos ver, a nós mesmos em Deus, Que era essa luz, mais claramente que nos vemos no melhor dos espelhos… Por um impulso íntimo, caímos de joelhos e repetimos intimamente: Ó Santíssima Trindade eu Vos adoro… Em seguida, começou a elevar-se em direção ao nascente, até desaparecer na imensidão da distância. A luz que a circundava ia com que abrindo um caminho no cerrado dos astros, motivo por que alguma vez dissemos que vimos abrir-se o Céu.»

Combinaram, como já referi numa das crónicas anteriores, nada dizerem, mas Jacinta não se conteve, pois uma parte dessa luz brilhava no seu coração e quis, prontamente, incida-la no coração dos seus progenitores, não conseguindo retê-la por mais tempo no seu festivo íntimo: «Minha mãe, eu vi hoje Nossa Senhora na Cova da Iria.»A mãe não lhe ligou, pensando ser mais uma brincadeira de crianças, mas a insistência da Jacinta era tanta que ela virou-se para ela e disse-lhe ironicamente: «Ah, sim? Que grande santa que tu me saíste para assim te aparecer Nossa Senhora!

- Vi, mãezinha, vi.»

Lentamente, a mãe e os irmãos foram acreditando. O Francisco, no dia seguinte foi comunicar à Lúcia o sucedido, deixando-a perplexa, pensado no que iria acontecer. Assim sucedeu, a partir daquela data os pastorinhos não tiveram mais sossego, sobretudo até à aparição do dia 13 de Outubro. A mãe da Lúcia, senhora Maria Rosa, não acreditou, fazendo como S. Tomé, receando confusões, trapalhices, ilusões, brincadeiras de crianças, estabelecendo-se um contraste entre a fé dos Martos e a “relutância crítica, prudente de Maria Rosa.” Lúcia chora, não diz o contrário, desabafando com a Virgem Maria e seus amigos. A notícia propaga-se, teme o pior, quer que a filha desminta às pessoas a quem chegou a notícia, colocando-a num sofrimento arrasador, dirigindo aos primos esta pergunta sem resposta possível: «Minha Mãe quer a todo o custo que eu diga que menti; e como “hei-de” dizê-lo?»

Principal fonte destas crónicas: “Fátima Altar do Mundo”, 3 volumes, sob a direção literária do Dr. João Ameal da Academia Portuguesa da História; direção artística de Luís Reis Santos, historiador de arte e diretor do Museu Machado de Castro, Coimbra; realização e propriedade de Augusto Dias Arnaut e Gabriel Ferreira Marques, composição e impressão - Companhia Editora do Minho, Barcelos, editada pela Ocidental Editora, Porto, em 1953 (Papel fabricado especialmente pela Companhia do Papel do Prado em Tomar)


Autor: Salvador de Sousa
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22 agosto 2019