Como o S. João está à porta, a União Europeia cada vez mais longe de cumprir os objetivos para que foi criada (mais solidariedade, menos desigualdades e melhor desempenho económico), a geringonça a braços com profundas desavenças e infidelidades entre seus membros, a pobreza, no país, a maior afronta ao espírito inicial do 25 de Abril, a ladroagem de colarinho branco já uma instituição nacional... e esta vida são dois dias, tristezas não pagam calotes e quem canta seus males espanta, vamos, caro leitor, fazer das tripas coração; e toca a afinar o pífaro e a preparar o martelinho e o alho-porro para a grande noitada.
E como um S. João da Ponte bem cantado e popular não escapa à brejeirice e à pimenta da má-língua, ora aqui vão umas quadras à maneira e na sua versão mais moderna e original:
E repenica, repenica, repenica
Tanta gente a suar em bica;
E repapoila, repapoila, repapoila,
P'ra meter a mão na caçoila.
S. João vindo ao terreiro
P'ra ver a banda tocar,
Topou que a banda do Costa
Estava a desafinar.
O BE tocava em Fá,
O PS em Dó e Sol
E o PCP abusava
Do sustenido e bemol.
Ó Costa, não pode ser
Tanta desafinação
S. João, são os apertos
Do Centeno e da União.
- Mas, ó Costa, donde vem
Toda esta calamidade?
Das migalhas da União
Com molho de austeridade.
Mas garanto, ó meu santinho,
Que mal passe esta aflição
Olearemos as gaitas
P'ra repor a afinação.
E repenica, repenica, repenica,
Tanta gente a suar em bica;
E repapoila, repapoila, repapoila
P'ra meter a mão na caçoila.
Mas S. João que é matreiro
Responde cheio de intrigas:
- Tem paciência, ó Costinha,
Não vou nas tuas cantigas.
E porque a verdade é esta
Por mais coisas que me digas,
Terás que ser fustigado
Com um vasculho de ortigas.
- Mas S. João, é injusto
P´ las leis da democracia,
Não fui eleito pelo povo
Mas fiz uma maioria.
- Se o povo não te deu voto
A geringonça, afinal,
Não passa duma manobra
Anticonstitucional.
- Ó meu Santo, o povo é assim
E o seu gosto é votar
À toa, porque cabeça
Tenho eu p'ra governar.
Por isso não te admires
E dele não tenhas pena
Ou será que te esqueceste
Que o povo é quem mais ordena?
Não estejas tão certo assim
Dos teus dons de inteligência
É que o povo tem limites
Para a sua paciência.
Que o povo não está gostando
Que toques desafinado
E manda-te qualquer dia
Tocar para outro lado.
Não vale a pena gemer
Nem importa a gritaria
Sou eu que mando na festa
Mesmo sem ter maioria.
E já c'oa festa no fim
E o povo muito cansado
Toca, toca a geringonça
Mas sempre desafinado.
O BE tocando em Fá.
O PS em Dó e Sol
E o PCP abusando
Do sustenido e bemol.
E repenica, repenica, repenica,
Tanta gente a suar em bica;
E repapoila, repapoila, repapoila
P'ra meter a mão na caçoila.
Claro, que este podia bem ser um diálogo entre a cigarra e a formiga, entre Belém e S. Bento ou entre um cravo e um alho-porro, em noite de S. João; todavia, qualquer semelhança com a realidade política nacional não é pura coincidência.
Mesmo assim, coma umas sardinhitas nem que sejam de viveiro e regue-as com um bom tintol que não é por isso que o governo deixa de lhe tratar do pelo à enxada.
Bom S. João e até de hoje a oito.
Autor: Dinis Salgado
Um S. João à moda de Braga
DM
18 junho 2019