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Doença curável

Não querem uma grande abstenção nas eleições legislativas de Outubro? Muito simples: (i) Sejam sérios, falem verdade ao povo e acima de tudo falem das questões das pessoas em vez de se refugiarem num discurso de bota abaixo ou ir buscar ao passado assuntos bolorentos que já não lembram ao diabo.(ii) Matem a demagogia, isto é, deixem de prometer aquilo que soa bem mas não passa disso porque depois, na realidade, não podem fazer o que prometem. Um ou dois exemplos concretos: todos sabemos que temos tudo a cair, que falta pessoal, que os enfermeiros foram calados com rebuçados, que os professores foram esmagados, que não houve dinheiro para renovar material circulante ferroviário, etc, etc, mas houve dinheiro para os juízes. Não compreendem como isto pode ser e, por isso, vos chamam nomes que não repito por não serem muito limpos e cheirarem mal. Oiçam isto com atenção porque é isto que os afasta das eleições: digam onde vão buscar o dinheiro, em vez de dizer que lhes vão resolver os seus problemas; não digam que os assuntos estão em estudo, ou que nomearam uma comissão para estudar o caso, digam-lhes antes que o assunto está resolvido e vai ser assim e assado; não lhes digam mal dos concorrentes, digam como vão fazer melhor e com que dinheiro o vão fazer; deixem-se de festas e olhem para quem não está para festas. Em resumo, o povo quer a verdade, não quer ideologias para coisa nenhuma. Escolham assuntos concretos, isto é, coisas que dizem diretamente respeito à vida das gentes, não falem de números e estatísticas e quadros ou curvas de crescimento, que ninguém entende nem quer saber. O povo diz: muito palra quem pouco voa. Então voem mais e palrem menos. Façam uma campanha para esclarecer a mente e não para exacerbar as sensações. Se aparecerem com os remédios e não apenas com o diagnóstico, verão como ele corresponderá com o voto; as necessidades da vida do povo é a política que o povo entende. Deixem-se de filosofias baratas e especulações sociológicas balofas porque o eleitor é uma coisa concreta e não uma abstração; quando alguém vem com pregação ideológica o povo diz desta maneira: olha aquele a tocar violino. O povo já não precisa de ser politizado, o povo precisa de ser informado sobre a sua vida. Façam-no com palavras simples porque é dos tempos das parábolas que o bom entendimento vem da comunicação simples; falar fino é deitar poeira para o ar. Deixem de ir às televisões; já não há pachorra para vos ouvir. Deixem-se de jogos florais na Assembleia da República, já não há paciência para vos escutar. Não discutam a ponte, façam a ponte. Não discutam a lei dos cacos, não façam mais cacos. Não peçam desculpa, evitem as desculpas. Não nos falem da esquerda ou da direita, mas ainda não perceberam que nos estamos borrifando para essa divisão que para nós é fictícia? Fronteira que já se não vê, não vale o pau da barreira. Sejam o mais simples possível e se os casos tiverem de ser analisados em profundidade, façam isso nas comissões especializadas e poupem ao povo português a massada de ouvirem o que de todo não entendem. Nós queremos escutar não queremos ouvir. O eleitorado já não é aquela criança que se contenta com balões ou se engana com chupa-chupas. O povo sente-se marginalizado na democracia. E começa a cansar. Mas é doença curável, acreditem.


Autor: Paulo Fafe
DM

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17 junho 2019