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Ponto por ponto

Viajar é o único bem que se compra e nos faz mais rico” - Anónimo

Ponto um - Reflexões de uma viagem -É sempre retemperador para o espírito voltar atrás no tempo e no espaço. Recordar as experiências e as vivências passadas. Reviver mentalmente os trajectos e as visitas feitas a locais com histórias insignes e com memórias bem vivas. Viajar é entrar ainda num mundo de percepções e de sensibilidades. Até num mundo de fantasias. Daí, esta reflexão situar-se mais no campo emocional e dos sentidos.

Relembro os momentos em que os olhos percorriam céleres aqui, vagarosos acolá, extasiados mais além para apreciar a natureza criada pelos homens com visão e discernimento, os espaços urbanos carregados de vida, as policromias da paisagem e as frescuras culturais. Tudo, de facto, muito singelo e muito altivo. Muito verde e muito arborizado. Tudo muito bem organizado e devidamente tratado. Arrojo de um lado, capacidade construtiva do outro. Em cada espaço ajardinado, e como pano de fundo, um palácio de linhas barrocas ou neoclássicas como para o adornar. Um belo conjunto bem arranjado. Se os olhos viam com avidez, os ouvidos discerniam com precisão o ruído dos motorizados, o bulício das pessoas e a pacatez dos parques de lazer.

Ponto dois - cidades culturais - Não me custa nada reconhecer que gostei de absorver nessas cidades a sua grandeza monumental, artística e cultural. Cidades abertas, de avenidas recheadas de espaços, ladeadas por um casario soberbo e com zonas pedestres amplas, onde os parques verdes, aprazíveis e bem conservados abundavam para usufruto dos seus utilizadores. Sempre as pessoas como primeira preocupação. E são muitos espaços para todos. Muitos mesmo!

Jovens, muitos jovens, lendo nos relvados ou em namoricos cúmplices a deliciarem-se em carícias bem partilhadas e ofegantes. Nestas cidades respira-se dinamismo, juventude, irreverência. Uma atmosfera de crescimento económico com um comércio florescente de braço-dado. O turismo, em franca expansão, sem traumas e sem ideologias para o combater e para o denegrir como cá se faz. Há consciência. Há consciência que o turismo é uma alavanca rígida para um desenvolvimento sustentado. Por isso, o respeitam e o mimam. Não se importam de ter mais. Querem mais, porque turismo é riqueza e intercâmbio entre pessoas e culturas.

Ponto três - Hungria, Eslováquia, República Checa -Partiram atrás de nós (Portugal), no que concerne ao desenvolvimento social. As dificuldades eram muitas e as possibilidades financeiras nem por isso. Aderiram à União Europeia ainda fragilizados. Aterrorizados pelo domínio ditatorial e asfixiante dos estalinistas, conseguiram. Pagaram caro as ousadias para se libertarem do jugo opressor. Não esquecem os russos. De modo nenhum. Dizem-no abertamente. O flagelo russo deixou marcas profundas nas mentes e nos corações de todos. Por isso, não querem voltar atrás. Para as masmorras do pensamento manietado e manipulado. Tudo era terrivelmente controlado. Não querem mais as misérias, os saques e as arbitrariedades desse tempo.

Ponto quatro - Triste sina - Em poucos anos, colocaram-se à nossa frente. Bem à frente. Já nos ultrapassaram no rendimento per capita. Não é de estranhar. Têm outras condições humanas e outras motivações. Têm outras estruturas técnicas, culturais e educacionais. Certamente, têm aproveitado melhor as ajudas comunitárias. Não brincam aos desvios de fundos e às corrupções. Têm uma história triste de ocupação comunista que delapidou o seu vasto património histórico e cultural e os indignou ao ponto de lhes dar força suficiente para agarrar o futuro com outra visão. Conhecem o lado triste de uma história de humilhação. Não querem voltar atrás. Como nós.

Ponto cinco - Viena - Uma cidade cosmopolita, inspiradora, harmoniosa e completamente renovada no século XIX, tempo dos Habsburgos. Tudo na cidade é em grande. A música irradia por todos os lados. Palácios e mais palácios. Espaços verdes são 50% da área citadina. Um assombro. Um bem-estar. Uma qualidade de vida invejável. Viena é invejável.

Aquele concerto, com acompanhamento de canto lírico e o desenlace cénico de dois bailarinos foi magistral. Uma mistura entusiasmante. Uma sala cheia, rendida e a aplaudir de pé.

Ponto seis - Um desafio: desafio os nossos atarefados autarcas para fazerem viagens de trabalho. Para verem como se faz e como as coisas acontecem nessas cidades. Perguntem. Informem-se. Sintam as boas coisas. Ponderem. Tenham olhos na cara e vejam com os olhos de ver. De visão periférica, pelo menos. E, no final, nada de barracadas e de “quereres” sem jeito.


Autor: Armindo Oliveira
DM

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16 junho 2019