Acreditar. No quê e em quem?

1. Acreditar. No quê e em quem?

Talvez pareça atrevida, mas é uma pergunta a fazer. Hoje, mais que nunca. Impõe-se o uso do sentido crítico perante o que vemos, ouvimos e lemos. Que possamos e saibamos discernir entre o verdadeiro e o falso. Que nos apercebamos da existência de bem montadas máquinas de propaganda onde se não olha a meios para atingir os objetivos. Estes, às vezes, são a destruição moral das pessoas.

Há quem, propositadamente, não diga a verdade. Há quem, propositadamente, falseie a verdade. Há quem, propositadamente, só revele um aspeto da verdade, ocultando o que lhe não convém.

2. Veio a público o livro «Fake Pope», que tem por subtítulo «as falsas notícias acerca do Papa Francisco».

«Contra o Papa Francisco, lê-se na introdução, circulam acusações completamente inventadas (verdadeiras fake news), outras claramente instrumentais, algumas que se contradizem e que se podem refutar, nem que seja justapondo-as. Há acusações completamente exageradas, como se pudessem ser atribuídos ao Pontífice todos os males da Igreja, e há imputações falsas, que – por ignorância ou por malícia – contradizem de forma objetiva a realidade dos factos».

3. Face a notícias que circulam o bom senso recomenda se procure averiguar a origem; se é ou não merecedora de crédito.

Quem informa deve ter por norma informar com verdade. Quer se trate de acontecimentos que lhe agradem ou desagradem. Utilizar a informação para prejudicar seja quem for; para atribuir aos outros factos que não praticaram ou afirmações que não fizeram é desonesto.

4. Quem está interessado em divulgar notícias falsas e boatos utiliza os mais diversos canais. Hoje encontra nas redes sociais um veículo privilegiado. Há quem lhe dê crédito e até, ingenuamente, partilhe o que não deveria partilhar.

5. É possível que, involuntariamente, divulguemos coisas e afirmações que não correspondem à verdade. Pode acontecer de enganarmos porque outros, em quem confiámos, nos enganaram. Mas sempre que nos apercebamos disso tenhamos a hombridade de corrigir o erro e de repor a verdade.

Não deixemos que a mentira circule. Demonstremos a falsidade, esclareçamos as pessoas, desmontemos invencionices.

6. Quem se apercebe de que a seu respeito circula algo que não é verdadeiro tem o direito de se defender usando o direito de resposta. E o meio de comunicação que divulgou a falsidade tem o dever de publicar o desmentido com idêntico relevo ao dado ao que se desmente.

Infelizmente nem sempre acontece. O direito de resposta nem sempre é exercido (não sei se por ignorância se por qualquer outro motivo) e nem sempre é respeitado. Há quem considere humilhante dizer que errou quando, fazê-lo, só prestigia e dignifica.

7. O desmentido nem sempre repara o mal produzido pela notícia falsa. Quem o lê ou ouve pode ficar com a dúvida.

Nem sempre atinge o âmbito alcançado pela notícia falsa. «Uma mentira pode dar a volta ao mundo enquanto a verdade calça os sapatos», advertiu Martk Twain.

Pode-se apagar algo que se postou nas redes sociais, mas não se apaga a partilha e a divulgação que disso se fez. Pode-se desmentir uma notícia onde foi publicada. E as transcrições ou cópias que dela se fizeram? E os comentários a que deu pretexto?

8. Quem possui a obrigação de informar deve fazê-lo sempre com verdade. E, mesmo sendo verdade, deve refletir nas consequências da divulgação dessa verdade.

Toda a notícia deve ser verdadeira, mas nem toda a verdade é noticiável. Dizendo a verdade pode-se lesar gravemente alguém, provocando, sem motivo que o justifique, danos irreparáveis. Não se recomenda, por exemplo, que, ao narrar certo acontecimento, se omita a identidade de pessoas nele envolvidas, sobretudo quando se trata de crianças?