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«Noite baptismal»

Quando o Santo Padre Pio XII alterou os soleníssimos actos da Semana Santa, para os aproximar, o mais possível, das horas em que se verificou a Paixão, a Morte e a Ressurreição de Jesus, alguns cristãos não se aperceberam, nem da intenção do Papa, nem das exigências da Liturgia. Assim, os que gostavam de ouvir o toque das campainhas no ‘sábado de aleluia’ acharam que se alterava a religião... Voltamos, pois, à mais antiga tradição da reunião cristã, reunião nocturna, do sábado da Semana Santa. E compete aos cristãos redescobrir a primazia da Vigília Pascal sobre qualquer outro acto religioso. E esta primazia da Vigília Pascal advém-lhe de vários factos. O primeiro é, sem dúvida, este: com a Vigília Pascal, celebra-se o triunfo da vida sobre a morte. Jesus acreditou na força invencível do amor e, por isso, vive eternamente. Esta é a grande realidade da fé, e os cristãos reúnem-se nesta noite para redescobrir o sentido da nossa existência e para renovar o nosso compromisso de fidelidade à vida. Neste sentido se ordenaram as majestosas cerimónias da Vigília Pascal. Começamos por um símbolo: o círio, aceso na escuridão da noite e do templo, comunica a sua luz às nossas vidas. E prossegue a cerimónia com a leitura da Santa Bíblia, que recorda o mistério fundamental da nossa existência: Deus criou-nos para a vida e livra-nos da morte. Há um sacramento que significa esta fé na vida, na salvação. É o baptismo, e, com razão, esta noite é uma noite baptismal: consagra-se a água, baptizavam-se os catecúmenos, renovamos a nossa fé e o nosso compromisso baptismal. E só depois desta renovação é que se ouvem os acordes da alegria: Cristo ressuscitou. Às primeiras horas de domingo, as santas mulheres ouviram dos lábios do Anjo, quando demandavam o sepulcro de Jesus: «não está aqui: ressuscitou!». O povo de Deus é o povo baptizado, e se todo o homem é chamado à fé, o cristão é chamado à santidade. A Vigília Pascal lembra-lhe, certamente, quanto é necessário sofrer, e como é preciso morrer para alcançar a glória da ressurreição. Tudo se passa de noite, como longas, tão longas como as noites mais dolorosas, são as horas de dor e sofrimento que, por vezes, desabam sobre o cristão, ao qual, porém, não pode faltar a certeza de que Cristo está vivo e presente naqueles que crêem na sua vitória. A comunhão pascal, que realizamos, e que a Santa Igreja inculca com tanta insistência, reveste-se de uma extraordinária importância em virtude de um tríplice acto de fé: fé na Ressurreição de Cristo; fé na vida que Cristo nos concede agora, e fé na plenitude que nos espera no final da jornada. Vivamos a Vigília Pascal em todo o seu significado, e teremos vivido toda a beleza sobrenatural do baptismo. Noite baptismal!» Júlio Vaz, 5 de Abril de 1969, Sábado Santo. «A ressurreição de Jesus é a maior verdade em que os cristãos são convidados a acreditar, e que nesta vida se exprime pela ‘comunhão, o perdão, a amizade, a fraternidade, a compaixão, a misericórdia, o serviço». Tolentino Mendonça, 11 de Abril 2019. Uma Santa Páscoa para todos!
Autor: Carlos Nuno Vaz
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20 abril 2019