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Mais que um jogo…

Desengane-se quem pensa que Desporto é só rendimento, as medalhas, o sucesso, o vencer. O Desporto é um fenómeno extraordinariamente rico para o reduzir à taça. Esta semana participei no 1.º Campeonato do Mundo de Voleibol Escolar sub-15, organizado pela ISF (International School Sport Federation) conjuntamente com a Associação de Desporto Escolar da Croácia. Faço parte da Comissão Técnica do Voleibol, nesta organização internacional ligada ao Desporto em contexto escolar, desde 2010. De dois em dois anos são organizados campeonatos mundiais que envolvem muitos países de quase todos os continentes, mas até agora só tinham sido organizados para os sub-18. Nesta edição, a ISF decidiu baixar as idades, de forma experimental, para entender a aceitação e a dinâmica sociocultural que daí pode advir. Participaram 14 países de três continentes, num total de 24 equipas. A proveniência tão dispersa, com diferentes contextos culturais, confere a um evento desta natureza uma série de experiências extraordinariamente ricas para todos os participantes, e igualmente para quem organiza. Observa-se um estado comportamental de socialização constante, de partilha, de entrega aos jogos, em defesa das cores do seu País. Na verdade, até agora não é muito diferente do que acontece nos outros eventos, em idades mais avançadas, a grande diferença reside no nível dos jogos, mas na entrega ao jogo o contexto é exatamente o mesmo. Mas, como em todos os outros eventos anteriores, existem momentos marcantes que nos fazem alargar horizontes. A participação do Nepal, um pequeno País asiático, pela primeira vez na história desta modalidade na ISF, constitui uma grande surpresa. Claro que o voleibol está enraizado em todo o mundo, mas pensar que o Nepal iria participar neste tipo de evento não fazia parte das minhas/nossas expetativas. Claro, que disputou os últimos lugares. Claro, que o nível de jogo não era tão elevado como nas equipas que disputaram as finais. Porém, a alegria, o prazer, a entrega, a dedicação ao jogo, foram tão ou mais intensas que o vencedor do torneio. Acresce-se o facto das atletas, todas do mesmo tamanho, de estatura baixa, manifestarem uma felicidade incrível, no jogo e fora dele. O treinador, Kumar Rai, de uma simplicidade incrível, nunca, mas mesmo nunca, manifestou qualquer desagrado perante tamanha entrega das atletas. Durante todo o percurso competitivo nunca deixou cair a cara de felicidade, de desfrutar do jogo e de toda esta experiência. Percebi depois a dimensão desta participação. Um homem da mesma estatura que as atletas, aparência frágil, rosto marcado pela vida dura. Uma vida entregue ao desporto, ao voleibol. Percebi que as atletas, na grande maioria das vezes, jogam na rua, com redes improvisadas, no meio de estradas, em elevadíssima altitude. No entanto, a postura, a educação e os princípios desportivos nunca, mas mesmo nunca, deixaram de estar presentes, dentro e fora do campo. Ganharam algum título, não. Estão na ribalta das medalhas, também não. Mas estas pessoas já ganharam uma experiência para a vida. E todos nós uma lição: não interessa só ganhar “a medalha”, é muito mais rico colecionar e acrescentar “valor” ao que fazemos. É por isso, que tudo isto é mais que um jogo. É, por isso, que vale a pena investir na formação dos jovens.      
Autor: Carlos Dias
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5 abril 2019