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Escutar o grito dos pobres

1. «É necessário escutar o grito dos pobres e comprometermo-nos a erguê-los do seu estado de marginalização», escreve o Papa Francisco na mensagem para o Dia Mundial dos Pobres, que se realiza pela primeira vez no próximo domingo. Tem por tema: «Meus filhinhos, não amemos com palavras nem com a boca, mas com obras e com verdade» ( 1João 3, 18). 2. A pobreza – e à frente da pobreza está a pessoa do pobre, não o esqueçamos – é uma realidade, a que se não pode ficar indiferente. Realidade que nem sempre se reduz à carência de bens materiais. O Papa Francisco tem, insistentemente, alertado para a pobreza nas suas diversas formas: «O Mundo continua a gerar novas formas de pobreza espiritual e material, que comprometem a dignidade das pessoas». «Ainda hoje populações inteiras padecem a fome e a sede, sendo grande a preocupação suscitada pelas imagens de crianças que não têm nada para se alimentar. Multidões de pessoas continuam a emigrar dum país para outro à procura de alimento, trabalho, casa e paz. A doença, nas suas várias formas, é um motivo permanente de aflição que requer ajuda, consolação e apoio. Os estabelecimentos prisionais são lugares onde muitas vezes, à pena restritiva da liberdade, se juntam transtornos por vezes graves devido às condições desumanas de vida. O analfabetismo ainda é muito difuso, impedindo aos meninos e meninas de se formarem, expondo-os a novas formas de escravidão. A cultura do individualismo exacerbado, sobretudo no Ocidente, leva a perder o sentido de solidariedade e responsabilidade para com os outros. O próprio Deus continua a ser hoje um desconhecido para muitos; isto constitui a maior pobreza e o maior obstáculo para o reconhecimento da dignidade inviolável da vida humana». 3. A situação que se vive relativamente ao drama da pobreza não permite um fechar de olhos nem um cruzar de braços. A uma sociedade que desperdiça; em que os bens materiais são usados de uma forma egoísta e como meio de ostentação, é imperioso lembrar que o supérfluo é dos pobres. A ninguém é lícito esbanjar quando há pessoas a quem falta o necessário para poderem viver com dignidade. É um escândalo colecionar carros topo de gama quando há pessoas sem dinheiro para aviar uma receita na farmácia. É forçoso lembrar que o acesso à educação e à cultura é um bem que deve estar ao alcance de todos, já que um povo sub-educado é, consequentemente, um povo subdsenvolvido. Urgente é lembrar não ser a pobreza uma fatalidade, mas uma situação de que as pessoas podem sair, desde que sejam devidamente ajudadas. Há que pôr termo à mentalidade da subsidiodependência e à vida vivida de mão estendida. 4. Quando se fala da assistência aos pobres acentua-se o dever da Igreja, e esta não se furta a essa responsabilidade. Bento XVI lembra que «o amor do próximo, radicado no amor de Deus, é um dever, antes de mais, para cada um dos fiéis, mas é-o também para a comunidade eclesial inteira, e isto a todos os seus níveis: da comunidade local, passando pela Igreja particular, até à Igreja universal na sua globalidade». «No seio da comunidade dos crentes, diz também, não deve haver uma forma de pobreza tal que sejam negados a alguém os bens necessários para uma vida condigna». «A Igreja não pode descurar o serviço da caridade, tal como não pode negligenciar os Sacramentos nem a Palavra», afirma ainda. A atenção aos pobres tem sido uma constante na doutrina e na ação do Papa Francisco. Recordo ter promovido, para os sem-abrigo, duches de banho, barbearia, dormitório. Para servir os pobres promoveu uma lavandaria. 5. Convém, entretanto, lembrar que o pobre é um cidadão como os demais. Na gestão dos dinheiros públicos há que atender às suas necessidades. O Governo tem feito, nesta matéria, acordos de cooperação com Instituições Privadas de Solidariedade Social. Que tais acordos possuam a desejável estabilidade. Que o Governo não dê o mínimo exigindo o máximo. Que não sobrecarregue os privados com exigências descabidas.
Autor: Silva Araújo
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16 novembro 2017