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Passes-sociais ultracongelados

Pela segunda vez no espaço de poucos meses, o Governo veio a terreiro falar dos novos passes sociais, que entrarão em vigor, brevemente, nas áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto… embora se acene com a extensão da medida ao restante país. Segundo dados, entretanto, disponíveis a descida dos passes sociais custaria ao Estado e às autarquias mais de 95 milhões de euros, sendo 65 milhões para a AML, 15 a 20 milhões para AMP e 5 a 10 milhões para o resto do país… num total de 946 mil passageiros. O custo de cada passe social andará, por cliente, em cerca de quarenta euros, sendo ainda aventada a hipótese de haver um passe-social por família, mas este processo parece ainda com algum atraso na sua prossecução. Apesar de poder ser uma medida muito popular, talvez não se saiba ainda quais os custos diretos e subsequentes que trarão ao país. Com efeito, nesta maré de benesses a que temos estado a assistir nos tempos mais recentes, algo parece cheirar a populismo (quase) eleitoralista, pois não se sabe totalmente o custo nos anos posteriores à implementação desta medida… tão favorável à população que se desloca em transportes públicos. = Sem delongas de outra natureza podemos interpretar que o Governo deseja que os cidadãos se transportem em modalidades de serviço ao público, tentando retirar das estradas o maior número possível de carros particulares. Para além das empresas – muitas delas públicas ou ainda nacionalizadas, de capital autárquico e umas tantas privadas – e dos diferentes meios de transporte – rodoviário, ferroviário ou fluvial – teremos de compreender como serão subsidiados os recursos envolvidos na iniciativa. Com efeito, a coletivização dos transportes é um dos resquícios dos tempos revolucionários de há quatro décadas e, ainda hoje, é um forte setor de intervenção sindicalista na contestação, nas greves e nos prejuízos acumulados. = Tendo em conta estes itens mais ou menos favoráveis à redução dos custos dos passes sociais, teremos de estar atentos às linhas ideológicas que fazem mover quem tem conduzido o processo. Nota-se um certo combate àquilo que possa soar a privado, criando a sensação de que o coletivismo possa ser a solução para tantos dos problemas das populações. Sabemos por experiência de outros momentos e outras tantas latitudes que a coletivização favorece a manipulação e pode criar, em certas ocasiões, o caldo de recurso a engendrar convulsões sociais mais ou menos questionáveis, se atendermos a outras leituras dos factos e das situações. Como será se o Governo mudar, ter-se-á capacidade para continuar a suportar a baixo custo os imbróglios não detetados como era devido? Quem irá reverter uma medida tão populista, se os serviços se forem degradando e tornando obsoletos? Os exemplos de outras épocas ainda não ensinaram a prevenir erros posteriores? Efetivamente, os passes sociais ultracongelados podem ser de utilidade para ludibriar incautos, mas alguém terá de pagar a fatura senão os mentores, os beneficiários/utilizadores, mas também o resto do país, quando entrarmos em colapso e, novamente, sob resgate estrangeiro… Pena é que sejam sempre os que produzem riqueza no setor privado – com os impostos e outras taxas – que terão de voltar a ser sujeitos ao garrote da austeridade – esse fantasma que nunca nos deixou nos últimos anos – e que voltará muito por culpa de medidas populistas como esta do lançamento dos passes sociais em maré de vacas mais ou menos gordas. Se elas encolherem quem suportará as consequências? Já era tempo de tomarmos juízo com tantas e tão disparatadas decisões, que não preveem o futuro, mas que se situam na orla do manto dos executores do poder… = Haja o mínimo de justiça e o máximo de seriedade! Porque acreditamos na unidade do país é razoavelmente questionável que o resto (talvez sete milhões, se ainda formos nove milhões de residentes) fique fora desta nova vaga de privilegiados, pois os não-favorecidos merecem respeito e não discriminação em razão de não fazerem parte dos que votam em quem pretende continuar no poder ou a fartar-se das suas prebendas… Assim, não, obrigado!
Autor: António Sílvio Couto
DM

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25 março 2019