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Um fantasmachamado paridade

Nunca a paridade de género esteve tanto em discussão pública. Nos últimos anos tem surgido muita legislação nesta área, que visa reforçar o papel da mulher na vida ativa pública, mas mais importante, despertar a consciência para a importância de abrir portas às oportunidades da mulher, que até há bem pouco tempo, lhe estavam vedadas. Paridade não é a via verde da “política dos coitadinhos”. No desporto, também esta paridade devia ser discutida. Temos poucas mulheres que prolongam a vida desportiva para além dos 25 anos de idade, por exemplo, tendo em conta os atletas no regime de alto rendimento somente cerca de 27% é que são mulheres. Temos pouquíssimos treinadores do género feminino a exercer, existem poucas dirigentes a comandar os projetos desportivos e também, em muitas modalidades, as árbitras são casos raros. O ratio da estatística aponta que 1 em 10 árbitros e 1 em 10 treinadores são do género feminino. A primeira referência à participação das mulheres em competições desportivas tem quase séculos, mas para se ter uma noção destes atrasos na paridade de género, só nos últimos JO de Londres (em 2012) é que o género feminino viu a sua representação acontecer em todas as modalidades do programa. O desporto na sua génese esteve associado às atividades militares, ou seja, o desporto foi criado por e para eles, e em tempos idos, era mesmo vedada a entrada às mulheres à prática desportiva formal, mas isso não quer dizer que eles tenham mais força, sabedoria ou competência. Quem assiste diariamente à luta de uma "mulher – desportista", conhece as dificuldades que estas encontram em ser reconhecidas, recompensadas e valorizadas. O apoio económico e social que a mulher aufere, globalmente, é muito inferior ao apoio dado ao homem. A questão é que todas as condicionantes de treino/ competição são as “mesmas”, as exigências são iguais, acrescida, na maioria das vezes, da dificuldade em cumprir as tarefas diárias enquanto atleta/ estudante/ mãe/ mulher. O papel e a intervenção de um homem e de uma mulher poderão ser diferentes, mas ambos devem ser, tal como diz a Declaração dos Direitos Humanos: “livres e iguais na dignidade e nos direitos”. Uma coisa é a intenção, a legislação, outra é a vida quotidiana. Basta observar o relevo que é dado na comunicação social ao desporto no feminino, ao enfoque que é dado aos diferentes desportos, aos três grandes e aos “outros”... A desigualdade no tratamento informativo é ultrajante. Um dos mais graves problemas do Desporto é que não somos tratados da mesma forma. Todos sabemos que a democratização do mérito é algo que é fundamental para que a sociedade evolua e se criem as bases para ser uma sociedade mais equilibrada, ativa e saudável e, isso não deve ter género. É aqui, que deve ser centrada a atenção: igualdade de circunstância e de tratamento perante o mérito. Isso sim é paridade. Eu acho profundamente errado estabelecer paridade desmedida e descabida, por quotas, sem estabelecer os critérios do mérito. Há de facto, um papel para todos, e no desporto é fundamental que os aspetos como a equidade, a integração, a valorização do papel de TODOS não sejam esquecidos, incluindo o papel da mulher.
Autor: Carlos Dias
DM

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1 março 2019