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Comportamentos eleitorais (3)

1.Escolhas eleitorais pouco… conscientes. Continua a valer tudo para conquistar votos. Isto porque há estratégias que são uma negação do que deve ser uma campanha eleitoral para escolher o melhor candidato. A estratégia eleitoral mais frequente dos candidatos que estão no poder é enfatizar demagogicamente que está tudo bem… Ora, ao negar a realidade, mostram que têm receio de enfrentar o seu fracasso político e que não estão interessados em resolvê-la… Mas, há outros métodos eleitorais que vão pelo mesmo caminho. Por exemplo, manipular os eleitores pelo sugestionamento de sentimentos primitivos de nojo e de repugnância em relação ao adversário e ao seu programa eleitoral para lhe tirar credibilidade, como diz Yobel Iubar, prof. de Psicologia na Univ. Toronto, Canadá. Se um candidato usar uma linguagem que induz nos eleitores uma sensação de nojo e de repugnância pelo programa político do adversário, como por exemplo dizer que tal político ou tal partido fede mal, isso pode ter uma forte influência de aceitação em algumas pessoas mais sensíveis a esse tipo de argumentação primária e captar o seu voto. É uma estratégia que evita a análise real dos problemas e leva a uma escolha irracional. 2. Outro modo de fugir à realidade é acentuar os aspectos negativos do adversário, em vez de analisar as suas propostas. E, se a essa estratégia se juntar o não gostar desse candidato ou desse partido, ela ganha outra força, porque no circuito do cérebro, o gosto vem antes do conceito. Usar sentimentos sem razão. Quem diz gostar, diz também não gostar. Muitas vezes, os eleitores votam mais depressa num candidato só porque não gostam do seu adversário. Podem não apreciar muito o seu candidato, mas votam nele só porque não gostam do adversário. É a teoria do mal menor... 3. Estratégia semelhante é despertar medo nos eleitores, caso o adversário vencesse. Um discurso político que enfatize o medo, o risco de instabilidade económica, de insegurança terrorista, de intolerância religiosa, pode ter impacto em grupos sociais mais sensíveis. Há pessoas que se assustam facilmente e por isso apostam mais em candidatos (e soluções políticas) que ofereçam mais segurança, geralmente associadas a posições mais conservadoras. Repare-se como ainda se continua a evocar o argumento usado por Passos Coelho que “vinha aí o diabo” se mudasse a política… Isto foi tão incisivo que ainda hoje os adversários estão a tentar esconjurar esse medo, não vá o diabo aparecer mesmo… (há quem diga que ele continua ao virar da esquina…). 4. Há outros eleitores que votam por clubismo político: não sabem porquê, mas confiam no partido e é nele que votam. Sentem-se mais seguros assim. Passam ao partido um cheque em branco de voto para toda a vida… Uma espécie de claques partidárias que não usam a razão para decidir o voto e se tornam mais manipuláveis. Com eles nada se pode corrigir nem inovar… Outros votam em determinado partido porque simpatizam com o líder do partido. Isso até pode dizer bem do líder, porque ser capaz de congregar as pessoas é uma qualidade indispensável para ser líder; mas, não basta a simpatia para decidir o voto, exige-se que o líder do partido seja fiável e competente e a sua proposta política seja adequada aos problemas reais. 5. Outra estratégia frequente (que, no fundo, é uma forma de jogar com a fraqueza dos eleitores), é prometer tudo… mesmo que não possam cumprir… E se prometer tudo em momentos de crise ainda é mais eficaz… As promessas de fartura em tempos de crise sempre atraíram os famintos porque, por mecanismo de sobrevivência, pensam primeiro com o estômago e só depois com a razão. Conheço pessoas que, embora não se identifiquem com a sua ideologia, votaram neste Governo porque, na altura da crise, prometia tudo (agora, não sabe o que há-de fazer com tantas greves a reivindicar essas promessas). Estratégia semelhante é a das promessas de emprego ou ofertas de bens a eleitores mais pobres... (todos conhecem autarcas que ganharam eleições oferecendo casas do município a rendas simbólicas a eleitores mais carenciados). São estratégias de conquista de votos que corrompem o sentido da racionalidade da democracia, não ajudam a melhorar a relação democrática entre eleitores e eleitos, não contribuem para as reformas estruturais da sociedade e põem em causa a democracia. (Continua) (Nota: o autor não escreve conforme o novo Acordo Ortográfico)
Autor: M. Ribeiro Fernandes
DM

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24 fevereiro 2019