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“Oposição inorgânica” e redes sociais

Se, como escreveu Camões, “um fraco rei faz fraca a forte gente”, não é menos verdade que “uma oposição fraca dá um Governo fraco”, para usar a expressão de Marcelo Rebelo de Sousa na entrevista que, no final da semana passada, deu à Lusa.

Este lamento presidencial, exprimindo uma forte crítica à fraqueza da oposição e contendo implicitamente um severo reparo à fraqueza do governo, teve o condão de vir acompanhado por palavras de esperança, plasmadas na constatação de “movimentos de opinião, mediaticamente muito fortes, que não têm a ver com os debates partidários”, nem com reivindicações das grandes centrais sindicais ou do patronato, movimentos estes que se manifestam através dos antigos e novos meios de comunicação social.

Mas, se o Presidente da República reconheceu o valor e fortaleza destes “pequeninos” movimentos da sociedade civil, foi para destacar o apelo à criação de alternativas fortes e claras de poder e a importância da capacidade de regeneração do sistema partidário e do sistema de parceiros sociais.

Seja como for, suponho que ninguém tem dúvidas que nessa “oposição inorgânica” emergente, assumem particular relevo os novos meios de comunicação social, muito mais do que os antigos, com particular destaque para as redes sociais e dentro destas para o Facebook (FB).

E por isso não pude deixar de acolher com agrado mas com prudência, o anúncio feito pelo FB nesta pretérita segunda-feira, do lançamento de um conjunto de ferramentas para garantir mais transparência, menos interferência externa e menos contas e notícias falsas, com vista a proteger a integridade das eleições, particularmente as europeias deste ano.

Depois de se conhecer que a rede foi usada como instrumento de estratégias de propaganda e desinformação em diversos actos eleitorais, designadamente nas eleições presidenciais dos EUA, em 2016, e de haverem sido noticiados roubos de milhões de credenciais de acesso a vários serviços e empresas e ciberataques à escala planetária, que expuseram dados pessoais de utilizadores de todo o mundo, é bom saber-se que o FB trabalha agora, com empenho, para evitar que antigas e novas falhas sejam exploradas por profissionais sem escrúpulos, numa batalha “contra notícias falsas, desinformação, discurso de ódio, supressão de eleitores e interferência eleitoral.”

Por conseguinte, a notícia do plano do FB para criar novos centros de operações de segurança e de trabalho, em estreita colaboração com legisladores, comissões eleitorais, verificadores de factos, investigadores, académicos e sociedade civil, tem de saudar-se. Mas, insiste-se, com prudência, pois mais do que palavras – que, em variadíssimas circunstâncias, o vento tem levado –, esperam-se actos concretos e eficazes nessa luta sem tréguas contra a falsidade, o ódio e a desinformação.

Se assim acontecer, acredito que seja possível inverter a crescente e contínua tendência para o aumento da criminalidade informática associada às redes sociais em causa. E com isso ganharão, seguramente, a democracia, o Estado de Direito e o progresso social dos povos.


Autor: António Brochado Pedras
DM

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1 fevereiro 2019