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Profissão de professor em risco

E se de repente o número de professores baixa drasticamente ou, até, caminhamos para a sua extinção? Assim teríamos, como no antigamente, turmas com 40 ou mais alunos e escolas a funcionar três dias por semana e alternadamente. Isto não é mera fantasia e, muito menos, pura especulação; e uma certeza é evidente: a acontecer este cenário, certa extrema-esquerda defensora de uma educação livre e popular e uma escola em autogestão, sem professores, rejubilaria. Pois bem, segundo dados estatísticos oficiais, daqui a dez anos poderá não haver professores para satisfazer as necessidades educativas do país; e o alarme vem do número de candidatos a professor colocados, após as três fases de concurso e que baixou trinta por cento (300/4) face ao ano passado: em 2017, entraram 1093 contra 769 que se candidataram no presente ano letivo nos cursos de Educação Básica e Secundária, para o ensino pré-escolar e 1.º e 2.º Ciclos, ministrados em Escolas Superiores de Educação e Institutos Politécnicos. Numa primeira análise à situação aventa-se a hipótese da introdução do exame nacional de Português e Matemática (A e B e Matemática Aplicada às Ciências Sociais) pelo ministro Nuno Crato ser responsável por esta quebra de candidatos à profissão de professor; é que muitos estudantes chegam às candidaturas sem estas condições, agora necessárias para concorrerem ao curso de professores. Todavia, o problema é muito mais complexo e profundo e entronca em razões sociológicas e socioeconómicas; e a que não é alheia uma política constante de desvalorização e desacreditação da profissão docente por parte dos governos com pendor esquerdista que pugnam por uma escola livre, diria libertina, marxista e antogestionária, logo não autoritária nem normativa e muito menos disciplinada e disciplinadora; e, se possível, sem professores ou com professores meramente orientadores e facilitadores. Assim, em resposta a um inquérito recente da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) junto de estudantes candidatos ao ensino superior, somente 1,3% quer ser professor; e, como prova desta asserção, no presente ano letivo, a média de entrada, na 1.ª Fase para o curso de professor foi de treze valores o que, à partida, põe em causa a qualidade científica e profissional dos futuros docentes e, consequentemente, do ensino/aprendizagem. Depois, uma análise sumária à luta que os professores travam ao longo do tempo contra o atual governo, ela radica no desrespeito e desprezo que o ministério da Educação nutre pelos professores; e se pensarmos que, ao longo dos 44 anos de Democracia que já levamos, foi este ministério que mais ministros consumiu, temos a resposta para o constante desvalorização e animosidade pela classe docente. Agora, fácil é alencarmos algumas medidas que podem inverter este estado de coisas, devolvendo aos professores a dignidade, motivação e valorização perdidas e às escolas a tranquilidade organizacional e funcional necessárias; assim, algumas medidas urgentes e imprescindíveis: - melhores salários e maior autonomia; - formação contínua e possibilidade de progressão nas carreiras; - dimensão das turmas com diminuição do rácico aluno/professor; - estabilidade dos quadros e redução do horário de trabalho; - menos burocracia e fim às tarefas administrativas; - valorização e elevação do estatuto social. E, ainda, não menos importante e urgente se toma a responsabilização dos pais e encarregados de educação pelo comportamento dos filhos e educandos na escola, não consentindo que muitos se comportem mais como críticos e opositores do que como colaboradores e facilitadores da tarefa dos professores; e impedir que virem os filhos e educandos contra os professores e a escola, dando-lhes sempre razão e apoio em circunstâncias em que deviam censurá-los e reprimi-los, educando-os; e sempre seguindo o princípio pedagógico fundamental de que a primeira e melhor escola é a família e os primeiros educadores são os pais. A não ser assim, a profissão de professor corre sérios riscos de extinção ou de ainda maior desvalorização social e as escolas transformar-se-ão num verdadeiro local de deseducação e desinformação, fazendo dos jovens autênticos marginais e vencidos da vida. Então, até de hoje a oito.
Autor: Dinis Salgado
DM

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23 janeiro 2019