Não tenho o dom de adivinhar. Não frequentei qualquer profissionalização da adivinhação. Nunca me deram uma bola de cristal e nunca adivinhei o número da lotaria. Por isso não sei se o ano de 2019, que ora começa, vai ser um lençol branco com muitas nódoas negras, ou se vai ser um lençol preto com algumas nódoas brancas!
Por mero palpite, que é assim um tiro ao alvo, parece-me que este ano, que é novo de calendário, vai ser um pouco destas duas coisas, cada uma a seu tempo e circunstâncias. Será certamente um ano de nódoas pretas com as greves que estão já anunciadas a que se juntará um clima de muitas palavras de crispação derivado às eleições, regional, europeias e legislativas. A espaços, estas nódoas negras deixam intervalos de cor branca ou seja, algum tempo de respiro.
O primeiro-ministro e o seu governo dirão que o lençol é mais branco do que preto e a oposição dirá que este lençol branco não existe, ou melhor, só existe na imaginação de António Costa. O primeiro-ministro vai ter oportunidade, ou oportunidades várias, para fazer valer a sua apregoada esperteza política arranjando equilíbrios entre várias partes, quer no atual xadrez político, quer no campo laboral onde já os sindicatos não mandam sós.
Há uma tendência para o aparecimento de movimentos inorgânicos que trazem aos políticos muitas dores de cabeça, precisamente por não saberem onde está a cabeça, o princípio e como se encontrar o fim destes movimentos. Não são apenas os populismos, são também os descontentamentos generalizados que se organizam e ganham força de contestação. São caçadores furtivos que atiram a tudo o que mexe nos seus bolsos.
Esta organização desorganizada é uma mancha que marcha sempre que entende que se deve pôr em movimento. Tende a alastrar com ética de voluntarismo. Os trabalhadores em geral, não necessitam de sindicato para reivindicarem as carreiras, os aumentos salariais, o horário laboral, os seus direitos. Já aprenderam a ser sindicato através das redes sociais. Sabem bem que a economia tem de chegar até eles e adotam a máxima um dia dita por Jorge Sampaio, “há mais vida para lá do orçamento”.
É verdade que para haver vida para lá do orçamento é preciso haver um orçamento que garanta a vida da gente. Governar com pessoas que sentem o orçamento como seu, como fonte de rendimento próprio e pretexto para reivindicar, é estar dentro de uma sociedade em que cada cidadão é uma contestação.
Não é preciso dizer-lhes que há hospitais com falta de material, que há juízes descontentes, que há o esbulho de tempo dos professores, que há a luta dos enfermeiros, que há a greve dos transportes, tudo encadeado num rosário de nódoas pretas que deixa pouco de branco no lençol branco que o governo apresenta aos portugueses.
As melhorias são algumas e importantes mas todas dependentes dos outros: investimento estrangeiro, turismo, exportações, são manchas brancas neste lençol preto, mas estão nele como o pó que mal cai mas logo se vai sacudido pelo espanador.
O problema da saúde, é certamente a nódoa maior; estamos a perceber que, por razões puramente ideológicas, querem mexer nos hospitais público privados e nos privados. A esquerda considera-os uns exploradores capitalistas, mas tenham juizinho, porque o povo, a quem esses hospitais servem com zelo e competência, tem deles a melhor imagem. Já não estamos no tempo das ideologias coletivistas.
Foi chão que, nem no terreno onde nasceram deu bons frutos. Deixem-se de aventureirismo e caiam na realidade. Quando se vai ao arrepio do povo, este não se esquece de quem lhe arrepia o pelo.
Autor: Paulo Fafe