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A passadeira vermelha

1– Andam as hostes alarmadas com o recrudescimento da «extrema direita» um pouco por todo o mundo ocidental. E com alguma razão: na Europa do Norte, na Europa do Sul, na Europa de Leste vão aparecendo sinais que podem arriscar a União Europeia. Na América do Sul – terra de todas as ditaduras, da esquerda à direita – o Brasil ameaça-nos com uma patética caricatura de nazismo serôdio. Nos Estados Unidos, se não há um ensaio no género, parece: o sr. Trump tem os esgares, os gestos, as atitudes e comportamentos que me fazem lembrar alguém dos anos 30 do século passado. Por cá, felizmente e até agora, sinais desses não passam de exibições folclóricas mais ou menos ridículas sem peso nem eco. Até agora, repito. Porque se está a desenvolver entre nós um «caldo de cultura» político altamente favorável à bactéria do «ultra-direitismo» – como espero explicar a seguir. 2 – Que eu saiba (confesso a minha ignorância na matéria), ainda ninguém se debruçou, a sério, sobre as causas deste renascer das cinzas de ideologias que supúnhamos definitivamente queimadas há muitas décadas – renascimento tímido, por enquanto, mas com todas as condições para se «pandemizar». Tenho ouvido e lido sugestões várias de terapias várias para matar a «pandemia» no ovo; mas ainda não vi preocupações com a sua etiologia. Ora terapia sem etiologia é rebaldaria, tempo perdido. Como em qualquer doença física, nas doenças sócio-políticas é preciso saber qual a origem ou causa da doença (etiologia) para se saber qual o melhor remédio a aplicar (terapia) e, em muitos casos, saber também como a prevenir ou evitar (profilaxia). Esta doença política precisa, urgentemente, de uma etiologia que permita depois uma terapia acertada e, eventualmente, uma profilaxia acertada. 3 – Foi, salvo erro, Lenine que disse que o esquerdismo é uma doença infantil do comunismo. Tinha razão: É um entusiasmo prosélito de adolescentes (tenham a idade que tiverem) que não mede causas nem consequências, mas que passa quando se logra mentalidade adulta. É um exagero e uma absolutização, a unicidade da ideia que se pretende servir e que, por isso mesmo, funciona de forma contraproducente e, como tal, suicida. No comunismo ou em qualquer outra ideologia atacada de esquerdismo. Ora o esquerdismo, com toda a sua panóplia de excessos, intolerâncias, de absolutismos, de prepotências, é o tal «caldo de cultura», de que atrás falei, onde a extrema direita fácil e comodamente germina. 4 – Um pouco por todo o mundo, mas principalmente nas Américas (do Norte e do Sul) e na Europa os esquerdismos (não confundir com «esquerdas») vão fiando os seus fios vermelhos com que se tece a triunfal passadeira vermelha que leva a extrema-direita ao Poder. E Portugal não é excepção. Também por cá se fiam fios de imposição de éticas e estéticas individuais, de pensamento único, de liberdades controladas, do absolutismo do politicamente correcto, da supremacia dos irracionais sobre os racionais, do achincalhamento do pensamento diferente, em suma, os fios da tirania esquerdista com que se tece a passadeira espessa, fofa, macia, que leva a extema-direita ao Poder. E esta agradece. 5 – Se num futuro – que Deus não permita – a direita totalitária se re-instalar em Portugal, ficá-lo-emos todos devendo aos esquerdismos do presente. Pelo menos terá criado todas as condições da sua possibilidade 6 – Esta – o esquerdismo – é a causa da doença. A proliferação no mundo das extremas-direitas, uma das possíveis consequências. Possíveis e prováveis. Nota: por decisão do autor, este texto não obedece ao impropriamente chamado acordo ortográfico
Autor: M. Moura Pacheco
DM

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14 novembro 2018