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Ordem e Progresso

Como há muito se previa, Jair Bolsonaro ganhou as recentes eleições brasileiras, tornando-se assim o mais recente presidente do Brasil. Dizem os entendidos que ele é um ditador, uma vez que pretende impor pela força a ordem naquela tremenda desordem em que se constituiu o país-filho. Ordem e progresso é aquilo que se lê na bandeira; é um conceito há muito consagrado e enraizado no espírito nacional brasileiro. Ultimamente parece que não havia ordem nas ruas do Brasil e muito menos qualquer índice de progresso numa terra que nasceu para ser rica. Se o atual dono do Planalto é um ditador, o tempo o dirá. Mas para que esse veja e avalie sem preconceitos ou medos extemporâneos, é preciso dar tempo para vermos como Bolsonaro começa a arrumar a casa; mas para além deste encargo, há uma consciência a restaurar no povo brasileiro e que passa pelo fim da corrupção. Sem limpar as almas pouco adianta limpar as ruas. Bolsonaro é ou foi militar e isso vê-se na disciplina mental que rege o seu pensamento, mas terá sempre de pensar que o povo não se disciplina a berros de parada; nem o Brasil é um quartel nem os brasileiros desfilam às ordens de qualquer capitão. Este equilíbrio entre ser povo livre e povo disciplinado tem de ser feito com a mentalização de todo um povo; mentalizar significa mudar de normas de vida pela convicção de cada um. E, cada um, somado a outros constituem uma sociedade com nova mentalidade. É difícil mudar, leva tempo e requer paciência, mas é uma necessidade que se impõe por si mesma; mas se fosse fácil qualquer um era um grande condutor de homens. Isto não se faz nem com armas e canhões, faz-se com doutrinação nas escolas, nas igrejas, nos políticos, nos partidos, em suma através de todos os brasileiros porque se reveste de um desígnio nacional. A preparação para a cidadania é uma longa batalha que tem de ser ganha. Bolsonaro, se for inteligente, deverá ter em mente que dirigir uma nação é estar do lado da moral, isto é, do consenso social alargado de todo um povo, e não apenas em ruas pacificadas por policiais; a tarefa é momentosa porque consciencializar uma sociedade é fazer uma nova montanha e colocar no topo as maiores das virtudes humanas: o respeito pelos outros. E isto não se faz com armamento distribuído a maiores de 21 anos. Loucura e tolice. Tem de saber gerir a ordem pela persuasão e não a ordem pela perseguição; tem de fazer crer que a ordem é um benefício coletivo ao serviço da liberdade de cada indivíduo. Para os arruaceiros, os assaltantes, os matadores, há leis fortes e tribunais céleres para que a justiça faça efeito. A dureza das leis não se configura com uma ditadura porque é para bem de todos que se castigam alguns. E quando se fala de desordeiros de rua, assaltantes, mortes violentas, violadores, carteiristas, traficantes e quejandos, fala-se também, de especuladores, de crimes económicos, de lavagem de dinheiro, de corruptos grandes, médios ou pequenos, de políticos que se abonam a si mesmos, dos que abusam do poder em proveito próprio. Estes também são ladrões. Bolsonaro pode cair na tentação de implementar no Brasil uma ditadura para impor ordem e progresso? Claro que pode e o clima de insatisfação do povo brasileiro é-lhe para isso propício. O povo brasileiro pode gostar da ordem e na esperança que esta lhe traga o progresso, tem que estar atento para que, quando acordar não esteja numa ditadura. Se Bolsonaro quer ser um disciplinador não pode cair na tentação de ser um ditador. Disciplinador, é saber criar ordem e progresso sem receios de ninguém. Ditador, é criar ordem e progresso sem respeito por ninguém. Paralelas são as vias, mas “por mais que as prolonguem nunca se encontram”.
Autor: Paulo Fafe
DM

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5 novembro 2018