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Porque é que o Papa não disfarça?

Mais vezes do que seria normalmente desejável temos visto o rosto do Papa Francisco triste, cabisbaixo, pensativo, denotando algo que o preocupa, que lhe enturva a alma e isso se percebe exteriormente. Muito honestamente será que o título deste texto deveria ter aquele ponto de interrogação? Não seria preferível deixar a frase como afirmação? Até que ponto podemos ou devemos questionar este posicionamento do Sumo Pontífice da Igreja católica? Que há de tão dramático, no interior da Igreja católica, que leva o Papa Francisco a apresentar aquele fácies? Por outro lado, não haverá no círculo dos próximos ao Papa quem cuide da sua imagem, não deixando transparecer que algo vai mal (ou menos bem) nas lides do governo da “barca de Pedro”? Quem tem de aconselhar o Papa não conseguirá demovê-lo ou atenuar-lhe tanta dor e sofrimento espelhado no seu rosto, ultimamente? Será correto tentar emendar na visibilidade do Papa aquilo que lhe vem ao rosto, de sofredor e de sofrido? = Estas e outras questões fazem-nos olhar para os últimos aparecimentos do Papa como algo que é preocupante, sobretudo para quem tem fé e está (ou procura estar) em comunhão com o Papa Francisco. Sujeito como qualquer outra pessoa humana às condicionantes da vida, temos vindo a descobrir algumas das causas daquilo que vemos retratado na presença do Papa e como feridas – ainda a sangrar – na Igreja católica. Na “carta ao Povo de Deus” de 20 de agosto passado, o Papa Francisco como que consubstanciou o que há de mais significativo do estado da Igreja e de cada um dos seus membros, a começar pelo seu responsável cimeiro. Os pecados e as ofensas dalguns dos membros da Igreja católica – o acento é colocado nos eclesiásticos, embora possam não ter sido só eles – fazem sofrer toda a Igreja, envergonhando tudo e todos, criando uma espécie de purga generalizada, senão mesmo uma condenação sem critério e, possivelmente, metendo em idêntica confusão muito para além das acusações apresentadas… = À boa maneira duma certa leitura dialética/marxista da história, dá a impressão que se pode estar a exorbitar a competência de denúncia para tantos dos crimes – não há que temer os epítetos, mesmo que envolvam gradas figuras – à mistura com a possibilidade de quase implicar alguma injustiça pela submissão mais à justiça mundana do que à misericórdia divina e eclesial. Algum justicialismo tem vindo a crescer nas artérias da Igreja, quando o que devia acontecer é bem mais sério, sereno e sensato: que haja nas veias da vida eclesial um movimento de conversão de todos pela aferição ao perdão de Deus e dos irmãos, tanto dado como recebido. = Nesta “santa igreja dos pecadores”, nota-se cada vez mais uma vaga de ataques endógenos e exógenos que colocam a autoridade do Papa em questão, mais sob os aspetos de moralidade e menos em matéria de doutrina, como se aquela fosse um certo critério – nalguns casos sob leituras extremistas – de maior credenciação da fé e de quem a serve, quantas vezes em grandes tribulações, provas e perseguições. Ao vermos a figura do Papa tão triste e sem rede de boa apresentação, acredito que ele associa ao seu ministério as dores e as amarguras do próprio Cristo, tantas vezes confrontado com o desprezo para com as crianças e os mais fragilizados… ontem como hoje. = Decorre durante o mês de outubro (de 3 a 28), em Roma, o sínodo dos bispos sobre os jovens, subordinado ao tema: “os jovens e o discernimento vocacional”. Atendendo à urgência e importância do tema, espero que isso possa animar o Papa Francisco, naquilo que é a sua função e missão na Igreja e para o mundo. Que o largo abraço do Papa atinja uma expressão ainda mais significativa por entre tantas provações dos membros da Igreja católica!
Autor: António Sílvio Couto
DM

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8 outubro 2018