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Viktor Frankl e o sentido da vida

“Aos homens não basta saber que existem, é preciso saber para que existem”. Viktor Frankl 1.Na linguagem do suicídio diz-se que, quando a vida já não faz sentido, não vale a pena viver. A questão do sentido da vida é um conceito central para a compreensão do ser humano. Assim pensa também Viktor Frankl. Maslow diria também, mais tarde, que a realização pessoal está no topo da pirâmide das necessidades do homem. Mas, o sentido da vida não é algo de abstracto e de estático que não se pode descobrir, mas algo de concreto e dinâmico, um modo específico de dar forma à situação concreta em que se vive. “Viver com sentido quer dizer que o homem, com as suas disposições e aptidões, as suas emoções e a sua vontade, se ponha ao serviço da proposta de cada momento, se confronte criativamente com ela, recebendo e dando ao mesmo tempo. Fazer sentido é estar completamente dedicado a uma causa” (Frankl). Assim, a descoberta do sentido da vida ocorre como forma de resposta às situações concretas da vida de cada um. Frankl entende que a pessoa não se deve perguntar teoricamente pelo sentido da sua vida, mas sim perceber-se questionada pela própria vida. Assim, conforme as circunstâncias que se lhe apresentam, a pessoa deve responder na forma de um compromisso com um sentido pessoal. Por isso, Frankl destaca a responsabilidade pessoal. Ser homem é ser-responsável e ser-livre. Responsabilidade e liberdade são duas faces da mesma realidade. 2. Sabemos que a nossa liberdade é limitada. Nascemos num contexto social e cultural que não escolhemos, somos portadores de uma herança genética que não escolhemos. Mas, é justamente a partir destas limitações que podemos agir livremente para as transcender. Não somos livres nas nossas limitações, mas temos a liberdade para nos posicionar perante elas. Conforme vai existindo, o homem vai-se libertando ou transcendendo suas limitações, sejam elas biológicas, psicológicas ou sociológicas, de modo a dominá-las ou configurá-las de acordo com os seus projectos. O ser humano é autodeterminante, dizia Frankl, porque é ele quem determina se resiste ou não a esses condicionamentos. Ao fazê-lo, ele está a fazer uma escolha. Resistindo ou não resistindo, ele faz uma escolha. 3. O ser humano apresenta uma capacidade natural de orientação para o sentido: perante uma situação concreta, ele percebe que tem de dar uma resposta. Esta capacidade de procura de sentido é orientada pela sua consciência, a que Frankl chama órgão de sentido. Ele considera que a consciência tem capacidade de procurar e descobrir o sentido único de cada situação. Mas, o sentido não é uma abstracção, não é uma ideia encerrada na consciência. O órgão de sentido está sempre voltado para algo além de si mesmo. A essa característica constitutiva do existir humano chama Frankl a autotranscendência. Para Frankl, só quando o homem se transcende a si mesmo é que o ser humano pode realizar a sua vontade de sentido. 4. O caminho concreto para a realização de sentido são os valores pessoais. Sempre que escolho alguma coisa é porque descobri a sua bondade e porque ela me interessa. E isso leva-me a dirigir-me para ela. Descobre o seu valor. Nós tomamos uma decisão sobre valores e não apenas sobre ideias. A questão de sentido pressupõe que temos a capacidade de livre arbítrio e que a escolha entre uma coisa e outra não é indiferente. Frankl distingue três categorias de valores: valores criativos, isto é, realizar alguma coisa, um trabalho, uma obra, dar algo ao mundo; valores vivenciais, que são receber algo do mundo, por exemplo, receber amor; e valores de atitude, tomar uma posição diante de sofrimentos inevitáveis. É nestes valores de atitude que o homem procura encontrar sentido nas suas dificuldades, nomeadamente perante aquilo a que ele chamou a tríade trágica: o sofrimento, a culpa e a morte. Todos estão sujeitos a passar por essa tríade. O que Frankl propõe é uma atitude de optimismo, de modo a transformá-la numa oportunidade de crescimento pessoal.O ser humano dirige-se para o sentido, que vai sempre à frente do ser, pois é o guia do ser” (Frankl). A existência está sempre orientada para o mundo. Assim, a vontade de sentido é a motivação básica do homem. A felicidade não é algo que se procure, mas uma resultante da realização da vida (Frankl). A felicidade não acontece por si mesma. Ela acontece tanto mais quanto mais uma pessoa se esquece de ser feliz e se dedica a outras pessoas ou a uma causa. Assim, quanto mais essa pessoa se realiza, mais ela se sente feliz. A realização pessoal está sempre voltada para o outro.
Autor: M. Ribeiro Fernandes
DM

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7 outubro 2018