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A Viajante

Abarca “Viajante” pertenceu à “Casa António Pedro da Costa”, localizada na Rua de S. Julião 23, 1.º, nosso bisavô. O livro de registos dos navios da empresa, no qual nos baseamos, contém informações soltas que também usamos aqui, mas com outro tipo de letra. I. Barca Portuguesa “VIAJANTE”, ex-Galera, do mesmo nome. Construída na Índia portuguesa, Damão, em 1850, pelo mesmo construtor da Fragata “D. Fernando”... Para prova da resistência das suas madeiras, que eram de teca e paroba, basta o seguinte: – Em 1899, achando-se fundeado no Tejo um dos maiores vapores da Messagerie Maritime, hoje extinta, próximo à “Viajante”, caíu1 um rijo temporal que obrigou os navios a garrarem durante a noite, juntando-se. O paquete, apesar de muito maior, escavacou a borda e trincanis, de ferro, abrindo água e a “Viajante”, apenas ligeiramente raspada, nada sofreu de importante. Quando se abriu o Canal de Suez, em 1869, foi a “Viajante”.... passar o Canal pagando apenas pilotagem,... isenta d’outros impostos. A narrativa continua com um texto escrito por meu avô Augusto Serra Costa. ..., a “Viajante” seguiu para Port Said afim de aproveitar aquela nova via de ligação para a Índia. Tendo o governo portuguez, convidado de honra, mandado a corveta de guerra “Estefania”2 representar Portugal, e tendo esta arribado a Gibraltar desmantelada, foi a “Viajante”... que entrou em Port Said a tempo das festas de abertura do Canal e com a nossa bandeira das quinas a tremular no topo do mastaréu. Era comandada por M. Sabino, natural de S. Martinho, que, não vendo a corveta “Estefania”, nem qualquer outra bandeira de Portugal em tão solene ocasião, resolveu tomar a representação de Portuga (...) Esta atitude do comandante Sabino, foi considerada abusiva, e censurada por uns, elogiada por outros, acabando o governo portuguez por reconhecer como bom serviço ao paiz, condecorando-o e dando-lhe na velhice uma tença. Referencias ao assunto: Revista Neptuno; Memorias = Le Canal Maritime du Suez 1869; Enciclopédia Universal Ilustrada; Anaes do Club Militar Naval; Shiping Wonders, etc. Em fim de Setembro 1917, em plena grande guerra, saíu (a Viajante) de Lisboa para Cabo Verde com escala pelo Funchal. No dia 2 de Outubro, a 180 milhas a N.E. de Porto Santo, um submarino alemão, às 7 horas da manhã, intimou-a, com 3 tiros de canhão, a render-se. Às 12 horas do mesmo dia, depois de (a) terem saqueado de todos os mantimentos, sabão da carga...., fizeram-na explodir com bombas e afundar. A tripulação salvou-se nos escaleres, aportando a Porto Santo. Assim terminou este navio que foi glória da nossa marinha mercante(...). Os ingleses nunca deixaram de a cumprimentar no mar, chamando-lhe “Colombo’s ship”. Os francezes chamavam-lhe “la petite frégate portugaise”(...). Era o navio mercante de mais edade (67 anos) ainda trabalhando. Quem coligiu estes apontamentos, comandou-a durante alguns anos e, em 1912, fez nella a viagem de núpcias aos Açores3. Estas notas do meu avô têm uma característica única: mencionam que toda a tripulação se salvou no momento em que a “Viajante” se afundava. Aqui está patente o sentido de responsabilidade de um comandante e o amor à sua tripulação. Antes do navio estão os homens. 1 Mantem-se a escrita da época. 2 O meu avô já não escreve “Estephania”, com “ph”, como aparece nos dois textos anteriormente transcritos. 3 Este comandante é, como já se referiu, meu avô Augusto Serra Costa que casou a 15 de Agosto de 1912 com Ignêz Gomes Rosa Serra Costa. A viagem de núpcias demorou 15 dias até Ponta Delgada, mas o meu avô já a fizera em três, como comandante da “Viajante”. Foi notícia de jornal.
Autor: Isabel Vasco Costa
DM

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16 setembro 2018