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Ponto por ponto

Portugal é um país pequeno. Dizem-nos que sim. Pelo menos é esta a classificação superficial que sempre nos inculcaram na mente e no entendimento. E a Bélgica não é um país ainda mais pequeno? E a Suíça? E a Holanda? E a Dinamarca? E a Eslovénia? Sim, Portugal é um país pequeno em estofo, em cidadania, em determinação, em responsabilidade, em organização. Sim, Portugal é um país com políticos pequenos e jurássicos. Com uma elite acrítica e acomodada, que gosta muito de receber mordomias da esfera do poder. Até temos altas figuras do Estado a dançar no palco do RiR - Rock in Rio – numa encenação populista e serôdia que causa apreensão e engulho a um país que vive mergulhado em ilusões, em fingimentos e em mentiras. Portugal é um país com poucos ricos e estes poucos são objecto dos maiores e soezes ataques por parte das forças políticas paralisantes que capturaram abusivamente os poderes de decisão do Estado. Portugal é um país sem visão e com memórias ideológicas enviesadas, pois querem agora esquecer e vilipendiar os grandes homens e os grandes feitos dos Descobrimentos. Ponto um – Por outro lado, Portugal é um país grande em corrupção, em compadrio, em traficância de influências. Em subserviência e em amiguismo. Basta consultar a lista de casos em investigação que nos envergonha e nos incomoda. Eles são: deputados, autarcas, secretários de Estado, ex-ministros, financeiros, empresários, magistrados, gente do poder e dos poderes. Todos eles a prestar contas à Justiça. Ainda bem. A impunidade começa a ter os dias contados. Ponto dois – A exigência e o rigor são atributos dos países do norte. A capacidade de enfrentar os problemas e de lhes dar respostas eficientes e duradouras são qualidades dos países da Europa Central. É aqui, no rigor e na exigência, na incapacidade de resolver problemas que reside a nossa pequenez. Contentamo-nos com pouco dentro de portas. Quando emigramos, tornamo-nos maiores, ambiciosos nos objectivos pessoais, enfrentamos dificuldades sem cair. Somos respeitados pela capacidade de trabalho e pela seriedade com que lidamos com outras gentes. Temos qualidades fabulosas para sair desta pasmaceira política e económica que nos tolhe há décadas em democracia. Uma bela democracia que construímos e ponto final! Ponto três – No mês de Maio, houve uma quebra no valor das exportações. E porquê? Bastou a AutoEuropa e a Galp, por razões de funcionalidade, exportarem menos e logo a balança comercial se ressentiu. Isto demonstra que o país está nas mãos de meia dúzia de empresas exportadoras. Se essas empresas falharem, o país pode entrar em colapso ou em depressão. A nossa pequenez está bem patente no tecido empresarial nacional, descapitalizado, pouco produtivo e inovador e ainda na incapacidade de criar “know how”. No fraco investimento reprodutivo e na débil organização nos serviços públicos e nas empresas de um modo geral. Ponto quatro – Vemos o argueiro nos olhos dos outros e não o vemos a trave nos nossos próprios olhos. Ou seja, valorizamos o que não interessa e o fútil e subestimamos o que realmente interessa. Isto vem a propósito da visita de Marcelo Rebelo de Sousa à Casa Branca para se encontrar com Donald Trump. A imprensa portuguesa tratou o encontro como um combate entre o “facínora” Golias e o inocente David. Até o cumprimento-de-mão serviu para marcar pontos no combate. Por outro lado, a imprensa americana não deu qualquer relevo à conversa de meia dúzia de minutos. Também aqui demonstramos a nossa pequenez. Pequenos gestos, importância desmesurada. Para quê? Resultados palpáveis? Nenhum! Só presunção. Ponto cinco – A “página da austeridade” foi virada com categoria e com mestria. Disto não restam dúvidas! Não fosse, palavra dada, palavra honrada, assumida corajosamente por alguém que nada teve a ver com o desastre da bancarrota de 2011. Uma certeza inolvidável! Numa altura de expansão económica e de aplicação de um cardápio de reformas inovador, o dr. Costa especializou-se em pedir dinheiro e sempre com sucesso indiscutível. Nos empréstimos, a oferta supera sempre e muitas vezes a procura. Esta é a sina de um país pequeno. Isto é o resultado do fantástico milagre económico da dupla Costa/Centeno, se não é?! Em Maio, a dívida atingiu o máximo histórico. Só são 250,3 mil milhões de euros! E promete não ficar por aqui, uma vez que em Junho já fomos buscar mais 2,5 mil milhões. Mas, o curioso desta história, ridícula e anedótica, é que os os Galambas, as Catarinas e os Jerónimos deste país exigem a renegociação da dívida aos credores e os Pedro Nuno Santos comprometem-se fazer tremer os alemães pelo não pagamento dos empréstimos. E, no final, viva a festa! Quem vier a seguir que se amanhe.
Autor: Armindo Oliveira
DM

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15 julho 2018