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Saber sair

1. Escrevo na manhã de 24 de junho, na sequência de uma reflexão sobre o testemunho de vida de S. João Batista. Foi o Precursor. Competiu-lhe o honroso encargo de abrir caminho para a receção de Jesus. Vejo nele o grande catequista. Aquele que aponta para Jesus e não para si próprio. Aquele que procura fazer amigos de Jesus, vencendo a tentação de, servindo-se do cargo, procurar fazer amigos seus. (É evidente que, sendo amigas de Jesus, as pessoas não deixam de reconhecer quem lhes mostrou o Senhor e serem também suas amigas). É importante o testemunho de vida do catequista. Prega-se mais com a vida do que com as palavras. E se a vida desmente o que as palavras dizem, como infelizmente acontece… 2. Quando Jesus apareceu, João Batista apresentou-o dizendo: eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo. Reconheceu a sua superioridade: não sou digno de lhe desatar as correias das sandálias. Soube desaparecer de cena: que Ele cresça e eu diminua (Mateus 3, 1-17; Marcos 1, 1-11; Lucas 3, 1-18; João,1, 19-30). 3. Uma das dificuldades de alguns líderes de hoje é a de reconhecerem o valor e a superioridade dos outros e saberem sair a tempo. Agarram-se demasiado aos lugares. Consideram-se insubstituíveis. Senhores de si, entendem que, depois deles, vem o caos. E a pretexto de servirem a instituição, servem-se. Alimentam o seu ego. Não têm a humildade suficiente para reconhecerem a existência de pessoas que os podem substituir, até com vantagem. Com a persistência no lugar sujeitam-se a deixar cair o muito de bom que antes tinham feito. Quando, deixando o cargo no momento próprio, sairiam pela porta grande, com o aplauso dos que serviram, com a sua teimosia sujeitam-se a serem escorraçados. 4. Discordo dos cargos vitalícios, que considero prejudiciais ao bem comum, como discordo do poder absoluto. Penso que, seja onde for, os cargos de liderança devem ser exercidos por um período determinado de tempo. Se não, acontece o envelhecimento da autoridade, a que se referia João XXIII na Pacem in Terris. Acontece de os líderes se fazerem donos em vez de servos. Nos primeiros anos do mandato andam atentos a tudo e procuram colmatar a mais pequena falha. Depois, vem o que não gostaria de apelidar de desleixo, mas de arrefecimento do entusiasmo e do fervor dos primeiros tempos. Há líderes que se afirmam desejosos de se submeterem ao juízo da história, mas só depois de mortos. Quando já não existe a possibilidade de os responsabilizar por erros que porventura hajam cometido. 5. Que os líderes se não furtem à prestação de contas à comunidade que servem, ou devem servir. Que saibam escolher colaboradores que os ajudem a exercer bem o mandato que lhes foi confiado, resistindo à tentação de se rodearem de bajuladores que lhes batem palmas e dizem amém a tudo quando, se fossem conscienciosos, deveriam alertar o chefe para erros que comete e evitar a tomada de decisões que se prevê nocivas para a comunidade. 6. Um autêntico líder é uma pessoa verdadeira e não fingidamente humilde. É uma pessoa que sabe ouvir antes de tomar decisões. É uma pessoa que reconhece as próprias limitações, – quem as não tem?! – e sabe pedir conselho. Adverte os colaboradores para o dever de, espontaneamente, lhe dizerem o que consideram menos certo em coisas que se fazem ou planeiam. Ser humilde também é não querer fazer má figura e evitar que a comunidade seja prejudicada em consequência de decisões autoritárias baseadas não na competência mas no orgulho do eu posso, eu quero, eu mando. Ter-se-iam evitado erros se quem detém o poder o considerasse como serviço e não como forma de se afirmar. Se quem manda tivesse a consciência de haver coisas que não deve querer. Se quem manda tivesse a consciência de haver ordens que não deveria dar. Pobre da comunidade cujo líder se endeusa, se deixa endeusar, faz tudo para que o endeusem, exige que o endeusem!
Autor: Silva Araújo
DM

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5 julho 2018