twitter

O futuro do trabalho ou o trabalho do futuro (2)

No artigo anterior (publicado no “Dia do Trabalhador”), concluíamos que a automação e robotização do trabalho origina angústia quanto aofuturo do trabalho, e, por outro lado, na nova era da robótica e da inteligência artificial (IA), desponta uma outra questão – a do trabalho do futuro.

1. Relatórios asseveram que empregos de muitossectores – indústria, transportes, logística, serviços, etc. – estão já a ser ocupados por robôs, ou virão a sê-lo nas próximas décadas; estudos (Universidade de Oxford, por ex.) sugerem que cerca de 35% dos trabalhadores podem ser substituídos por robôs em 20 anos. Uma das consequências desta IV Revolução Industrial será, pois, a procura de trabalhadores altamente qualificados, que realizam tarefas cognitivas e de inovação.

GerdLeonhard sustém, no seu recente livro Tecnologia versus Humanidade (já traduzido),que é um imperativo preservar a dimensão humana no progresso da sociedade digital; conforme aí afirma, "precisamos de regularo uso da tecnologia para eliminar os aspectos negativos". Este autor, para quem o mundo vai mudar mais nos próximos 20 que nos últimos 300 anos, a obsessão pela eficiênciareduz o valor de humanidade,seguindo as posições de cientistas, como Stephen Hawking, ou de empreendedores, como Elon Musk: por um futuro humano, é crucial umaregulaçãotransparente e exigente do avanço tecnológico. Sem dúvida, é reprovável que humanos sejam sujeitos a robôs ou sensores para mensurar o trabalho realizado, ou outros fins – uma nova escravidão –, além dos sérios riscos para a privacidade pessoal.

2. Todavia, se devidamente regulado, as vantagens a auferir poderão ir da comodidade, à cura para mais doenças, ao prolongamento da própria vida; tornando obsoletas várias das funções hoje penosas, ou perigosas, ou evitando estar 8 ou 10 horas fechado numa caixa a facturar ou a carimbar, surgirão várias outras funções, mais interessantes e criativas!Como no passado, qualquer avanço, a par de empregos extintos, trará outros novos: cerca de 1/3 dos novos empregos nos Estados Unidos eram, de acordo com um relatório recente (2016), inexistentes há 25 anos; e, em França, nos últimos 15 anos, a Internet destruiu 500.000 postos de trabalho, mas, ao mesmo tempo, criou 1,2 milhões doutros (2,4 postos de trabalho criados para cada extinto). O salto qualitativo será mais tempo para a actividade criativa, para funções reflexivas, de supervisão, para a arte, cognição e inovação.

3. Alguns cientistas alertam para o momento – poderá surgir! – em que os humanos serão superados pela IA, fruto da nossa própria tecnologia – qual inteligência não humana de uma capacidade imprevisível. Os efeitos poderão ser temíveis: se assim for, esse poder poderá vir a subjugar os humanos. Novamente, a regulaçãoé imprescindível! Todavia, segundo o relatório "The future of Jobs", do Fórum Económico Mundial, há competências humanasinsubstituíveis, não absorvíveis pela IA, que separarão o homem da máquina, e que serão o respaldo das novas funções: criatividade, resolução de problemas complexos, pensamento crítico, gestão responsável, negociação e flexibilidade cognitiva, discernimento e decisão justa, coordenação harmoniosa, inteligência emocional.

4. O “World Economic Forum” estima que 65% das crianças que hoje entram nas escolas irão trabalhar em funções actualmente inexistentes. Outras visões mais pessimistas admitem que metade das crianças que nascerem em 2020 nunca irão trabalhar! Ora, como sobrevirão as pessoas? Nessa situação de rarefacção de empregos, mais não restará que a atribuição a cada pessoa, pelos Estados, dum Rendimento Básico Incondicional (RBI), quegaranta uma base mínima de sustentação aos cidadãos, independentemente da classe socioeconómica.

Se hoje o trabalho é necessário para um mínimo de renda, para o sustento próprio e da família, então esse esteio económico virá do RBI – experiência já efectuada nalguns países nórdicos e num ou outro Estado da Federação estadunidense. Acresce que, se hoje são poucos aqueles que laboram na função que foi o seu sonho e paixão, então o trabalho deixará de estar ligado a uma necessidadecom vista a um rendimento, mas a uma vocação, que será uma opção. Perscruto já a interrogação: donde vem o dinheiro? Sem dúvida, uma questão complexa, mas o RBI substituiria actuais apoios sociais (rendimento mínimo de inserção, abonos, subsídio de desemprego, etc.).

Além disso, a ampla taxação de impostos sobre robôs, empresas digitais e outros empórios que virão, seria rendimento a distribuir pelos cidadãos: não propriamente um governo dando dinheiro, mas gerindo a riqueza social, que distribuía pelos cidadãos. Um sistema de mercado exíguo não suportaria que só poucos pudessem comprar: seria a ruína e falência generalizada. Queadiantaria substituir pessoas por robôs, se depois só poucos pudessem comprar o que os robôs produziriam?

O autor não escreve segundo o denominado acordo ortográfico.


Autor: Acílio Estanqueiro Rocha
DM

DM

5 maio 2018