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Direitos e deveres

1. É muito necessária uma reflexão sobre o respeito pelos direitos humanos, cuja violação tem sido uma constante ao longo da história. Tal violação começa no não reconhecimento da dignidade que todos têm de seres humanos e, numa visão cristã, de filhos de Deus. Quando viver a consciência de que a pessoa a quem me dirijo é um filho de Deus, o meu comportamento é necessariamente outro. E é essa consciência prática que falta. Fala-se muito em fraternidade universal mas a verdade é que tal fraternidade não se pratica. Desculpem a linguagem, mas a igualdade fundamental é uma treta. Tem havido seres humanos de primeira, de segunda, de terceira… Enquanto uns são tratados como pessoas outros são vistos como simples objetos de que as tais pessoas se servem. Deus criou os homens. Criou-os à sua imagem e semelhança. Mas os homens fizeram escravos que utilizam de harmonia com as suas conveniências. Ver no outro uma pessoa, igual a si em dignidade, em direitos e em deveres, continua a ser uma campanha a empreender, também no interior de sociedades que se consideram civilizadas. Na prática não é reconhecida a todos a dignidade de pessoa. 2. Um dos direitos humanos fundamentais é o direito à vida, também ele constantemente desrespeitado. Não apenas em cenários de guerra. Atua-se como se nem todas as vidas tivessem o mesmo valor. Há pessoas selvaticamente agredidas e barbaramente assassinadas. Gerou-se, em alguns meios, um clima de agressividade física e verbal. E a família, onde a pessoa se devia sentir particularmente acarinhada e defendida, é, com demasiada frequência, palco de cenas de agressividade. Há crianças maltratadas e idosos que gostariam de receber as atenções dadas a animais de estimação. 3. Estatisticamente tem baixado o número de desempregados, mas continua a ser obrigatório lutar pelo direito a um trabalho digno e dignamente remunerado. Há pessoas exploradas em alguns meios de trabalho. Exploradas por entidades empregadoras sem escrúpulos que só veem a produtividade e o lucro, que nem sempre pagam o devido, que nem sempre fazem os devidos descontos para a segurança social, que nem sempre têm em atenção as condições em que o trabalho é exercido, que fazem exigências desmedidas. Pessoas maltratadas pelos próprios colegas de trabalho, que criam um ambiente de intriga e de mexeriquice e onde a competição desenfreada ocupa o lugar do que devia ser uma sadia camaradagem. 4. Um outro direito desrespeitado com frequência situa-se no campo da liberdade de expressão do pensamento, das opções que cada um poderia livre e responsavelmente fazer, do que deveria ser a verdadeira liberdade religiosa. Pessoas há que se arrogam o monopólio da verdade e fazem a vida negra a quem não lê pela sua cartilha. 5. Desrespeitado é com frequência o legítimo direito de propriedade, havendo pessoas espoliadas do que legitimamente lhes pertence, numa sociedade em que quem tem a obrigação de as defender nem sempre o faz. 6. De outros direitos podia falar, mas hoje fico-me por aqui. Não deixo, porém, de lembrar que a par dos direitos também existem os deveres. Quem não cumpre os seus deveres carece de autoridade moral para reivindicar que lhe respeitem os direitos. A violação dos direitos também acontece porque há quem não cumpra os seus deveres. Há pessoas que mostram não terem grande consciência da própria dignidade e da dignidade dos outros. Há pessoas para quem a vida dos outros pouco ou nada conta. Há pessoas esquecidas do dever de criarem bom ambiente onde quer que se encontrem. Há pessoas que não sabem discordar sem gritar e sem insultar. Há pessoas que só aprenderam a conjugar os verbos reivindicar e exigir. O mundo só será diferente, para melhor, quando cada um se sentir respeitado nos seus legítimos direitos e souber cumprir escrupulosamente os próprios deveres. O respeito pelos direitos dos outros tem de ser para mim um dever. 7. Solidarizo-me com a Religiosa das Servas de Jesus que a semana passada foi agredida e roubada na Rua de S. Domingos, quando regressava a casa depois de ter passado a noite a assistir a doentes. Uma barbaridade revoltante, nesta Bracara Augusta.
Autor: Silva Araújo
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1 março 2018