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A humanidade tem registado avanços como sempre. Mas está exposta e perigos como (talvez) nunca. Preocupante é sentir que muitos destes perigos resultam de alguns daqueles avanços.
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É por isso que o fluxo da esperança tem de ser permanentemente temperado com muitas doses de realismo.É que, se o bem cresce, o mal também progride.
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Por conseguinte, não estamos em condições de apresentar uma visão unitária da história. Como percebeu Jacques Maritains, temos de contar com «várias descrições contraditórias» da existência.
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É certo que, como lembra Maurice Blondel, «tudo tende para o cume». Mas quem pode garantir, em cada momento, que estamos mais perto da plenitude? Não nos iludamos. Cada progresso — alerta Edgar Morin — acarreta sempre um retrocesso.
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O progresso da tecnologia devia ser (simetricamente) correspondido por um progresso de humanismo. Mas a experiência mostra que o progresso tecnológico está visceralmente ligado a um inquietante retrocesso humanitário.
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Não é a técnica que ameaça o homem. Afinal, não é o homem o produtor — e o contínuo utilizador — da técnica? A bem dizer, é o homem que ameaça o próprio homem. Como é possível que o homem se deixe dominar por aquilo que gerou?
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Na sua obra «Technology vs humanity», Gerd Leonhard verbaliza o que todos sentem: a tecnologia está a mudar e sobretudo a mudar-nos. O autor não hesita quanto ao caminho a seguir: tem de ser a humanidade a orientar a tecnologia; não pode ser a tecnologia a conduzir a humanidade.
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Estando cada vez mais conectados, já nos consciencializamos de que também estamos cada vez mais vigiados? O mais intrigante é o caudal de irracionalidade em todo este processo. Não gostamos de ser vigiados, mas somos nós que fornecemos os elementos para que nos vigiem.
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E, como é óbvio, não podemos negligenciar a (momentosa) questão do emprego. A intervenção humana já não dispensa a tecnologia. Mas, ao mesmo tempo, é a tecnologia que vai dispensando a intervenção humana.
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É fundamental apostar mais na via cooperativa que na via corporativa. A tecnologia existe para a cooperar com o homem. É urgente impedir que, em nome de lucros corporativos, a tecnologia ocupe o lugar do homem. Não deixemos que a tecnologia vença a humanidade. Façamos tudo para que a humanidade vença com a tecnologia!
Autor: Pe. João António Pinheiro Teixeira