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Delírios de opinião

É, desde há muito, sabido que há teorias da conspiração susceptíveis de agradar a qualquer género de pessoas. Ficou agora a saber-se que quase oito em cada dez franceses acreditam em pelo menos uma de onze “teorias da conspiração” antigas e recentes. A notícia desta tão generalizada crença foi partilhada pelos principais jornais do país, que divulgaram uma sondagem, realizada pelo Instituto Francês de Opinião Pública (IFOP), que auscultou no mês passado uma amostra significativa de maiores de 18 anos. Os resultados ofereceram um extraordinário “delírio de opinião”, para usar a certeira expressão citada pelo Libération, que, na terça-feira, dedicou ao assunto quase toda a primeira página e as quatro páginas seguintes. O estudo de opinião apurou que há gente a acreditar em mirabolâncias várias: em que é possível que a Terra seja plana e não redonda tal como se escuta desde que se entra para a escola, em que o rasto branco criado pela passagem de aviões no céu é composto por produtos químicos deliberadamente espalhados por razões mantidas em segredo, em que o vírus da SIDA foi criado em laboratório e testado na população africana antes de se espalhar por todo o mundo ou em que os grupos terroristas jihadistas como a Al-Qaeda ou o Daesh são fortemente influenciados pelos serviços secretos ocidentais. Há ainda os que acreditam que os americanos nunca estiveram na Lua e que a NASA forjou falsas provas e falsas imagens da aterragem da missão Apolo. O estudo apurou ainda que os que votaram na extrema-direita e na extrema-esquerda são os mais crédulos relativamente à generalidade das teorias da conspiração. Os eleitores de Marine Le Pen e de Jean-Luc Mélenchon são, por exemplo, os que mais julgam que nenhum homem pisou a Lua. Às notícias sobre os resultados da sondagem, a imprensa associou comentários de especialistas sobre como desmontar as teorias da conspiração e lidar com os que nelas acreditam. A tarefa não é simples uma vez que, tal como a sondagem também apurou, não faltam os que crêem que o papel da imprensa é essencialmente o de transmitir propaganda falsa, necessária para a perpetuação da sociedade actual, mas uma resposta eloquente encontrava-se já, no passado mês de Setembro, na revista Philosophies, em cujas páginas se dava conta do empreendimento de um físico inglês, David Grimes, que propôs um modelo matemático sobre as teorias da conspiração, raciocinando em termos de psicologia elementar. Começa ele por notar que sabemos que uma pessoa que tem um segredo tem uma certa probabilidade de o transmitir a um confidente. Conta-o e diz-lhe que é um segredo. É assim que os segredos circulam. A partir daí, David Grimes sugere um raciocínio simples: se os americanos nunca tivessem ido alguma vez à Lua, era necessário que várias dezenas de milhares de pessoas – empregados da NASA, astronautas, construtores aeronáuticos, jornalistas, etc. – estivessem por dentro do segredo em 1969. É razoável pensar que, em cinquenta anos, não haveria pelo menos um só a falar ou a deixar documentos num notário para, após a sua morte, provar que tinha havido uma fraude? David Grimes fez contas e calculou que o segredo a propósito das missões Apolo teria implicado 410 mil pessoas e teria sido descoberto, no máximo, em três anos e nove meses.
A conclusão não convencerá, evidentemente, os mais desconfiados. O que não pode deixar de ser considerado fascinante na disseminada crença nas teorias da conspiração é a circunstância de o reverso da desconfiança ser, afinal, uma credulidade de uma candura quase comovente. Há gente que para não ser enganada por maquinações secretas, se deixa enganar pela bizarria de qualquer patranha.

Autor: Eduardo Jorge Madureira Lopes
DM

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14 janeiro 2018