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Quando os vampiros espreitam

Entidades como a PSP e a GNR em todos os tempos e em todos os lugares do País prestam e prestaram grandes serviços às populações. Mas, nalguns casos abusam da autoridade que têm. Na minha juventude, todos os dias, 2 GNR percorriam a pé e de bicicleta os terrenos em volta da minha aldeia, observando os ilícitos que muitas vezes havia, os perigos que existiam (fogueiras que produziam fogos florestais, etc.).

E até resolviam contendas locais que, de outra forma, por vezes, originavam crimes: zangas entre vizinhos porque um roubava água a outro nas propriedades com fronteiras comuns, etc.. Eu tinha um amigo de infância que era filho de um GNR. Um dia, que, por acaso, era dia de feira na vila da Batalha, fomos visitar o Mosteiro.

Naturalmente que o meu amigo quis visitar o posto da GNR local. Ora, aconteceu que quando entrámos para o posto, um prisioneiro bateu fortemente na porta da prisão provisória. Um soldado da GNR estando de serviço, abriu a porta da cela e o prisioneiro pediu água.

O soldado, não só lhe não deu água como lhe bateu na cara com a coronha da espingarda que trazia. O meu amigo, boa criatura, ficou horrorizado com o gesto do soldado e diz-lhe o ditado: “Se isso é conduto, mais vale comer pão enxuto”. O soldado responde-lhe: “E o seu pai o que faz? Estes prisioneiros são gatunos carteiristas que nós bem conhecemos. Por isso, em dias de feira, fazemos rondas, apanhamo-los e guardamo-los aqui. Ao fim do dia soltamo-los. Alguns pedem isto ou aquilo, simplesmente para se escaparem e voltarem à sua arte. Com isso protegemos os feirantes e os visitantes”.

Hoje, as coisas são muito diferentes. Os GNR foram incapazes e evitar a morte de dezenas de pessoas nas estrada de Pedrógão Grande devido ao enorme fogo florestal e em Outubro, em Oliveira do Hospital, aconteceu, em menor grau, caso semelhante. Por outro lado, são bem conhecidos os casos de “caça à multa” agora muito facilitada pela modernização da informatização.

Assim, segundo as leis actuais, os carros têm de ser levados à Inspecção até ao dia da matrícula, por exemplo, 9 de Novembro. (Há uns 2 anos a lei permitia que o carro fosse à Inspecção durante todo o mês de Novembro, no caso citado. Também a entidade da última inspecção do carro avisava, por escrito, o dono do carro com 1 ou 2 semanas de antecedência, da data limite para a inspecção). Agora, nada disto acontece. Há uma entidade “central” que controla as datas em que cada carro tem de ir à Inspecção.

Assim, essa entidade sabe constantemente, as matrículas dos carros que têm a inspecção em falta, e também as zonas em que os carros com a inspecção em falta, circulam. Em cada dia, manda para os postos da GNR e da PSP dessas zonas, as listas com as matrículas dos carros que têm a inspecção em falta. Então, as patrulhas da GNR e da PSP põem-se, nos cruzamentos, a espreitar as matrículas dos carros que aí sempre têm de abrandar a marcha.

Quando encontram um faltoso, cercam-no logo e apresentam-lhe a conta: 250 euros. Um amigo meu pagou a quantia só por um dia em falta… (Trata-se, para o governo e para os policiais, de um “negócio da China”). E há mais casos de outros tipos. Às 8h30 de cada domingo na igreja de São Victor-o-Velho quem quiser assistir à missa, não tem parque público visível onde pôr o carro, ainda que tenha dentro uma pessoa com muletas.

Como é possível pôr o carro fora do passeio, mas encostado a ele, o condutor, tendo pessoa com muletas a bordo, ousou pôr o carro dessa forma, visto que no local, uma recta, vão há qualquer perigo ou inconveniência para o trânsito, sobretudo a um domingo. (O carro tem no vidro da frente certificado de junta médica a atestar a mobilidade reduzida da ocupante). Mas, logo apareceu um dos vampiros a “chupar-nos” 30 euros.

Em Fátima, junto ao Santuário, há local com WC para os peregrinos, por ventura vindos de longe, fazerem as suas necessidades. Junto a esse local há um pequeno parque que tem umas duas dezenas de lugares, o qual está sempre cheio, mesmo fora dos dias 13 de cada mês.

Aconteceu que o condutor de um carro, vindo de Braga, tendo dentro pessoa com muletas, resolveu pôr parte do carro sobre o passeio, que é aí bastante largo, nada prejudicando a circulação de pessoas ou carros.

Familiares que ficaram por perto, correram a avisar-nos dentro dos WC que os GNR já estavam a passar a multa. Tentámos justificar a situação, mas, nada... Tivemos de pagar 60 euros, e logo em dinheiro. Doutro modo ficávamos com o livrete do carro apreendido no posto da GNR de Fátima.

Curiosamente, seguimos depois os GNR e verificámos que eles deram uma volta e puseram-se de novo à espreita… Não sabemos de quanto foi a “colheita” naquela dia.

Em Ponte do Lima, à beira rio, há um parque enorme onde se fazem as feiras. Fora dos dias de feira, seria fácil pôr nesse parque o carro de um turista que desejasse almoçar num dos restaurantes contíguos, os quais têm boas vistas para o rio. Mas, se o turista arriscar isso, logo vem um vampiro da PSP aplicar multa.

Mais um caso: na aldeia de Feitos, na EN103 entre Viana do Castelo e Barcelos. Embora a quase totalidade das casas da aldeia esteja na encosta, afastadas da estrada, esse trecho da EN 103 é, legalmente, considerado como passando dentro da aldeia. É uma recta com uns 500m e descendente havendo nela total visibilidade para quem vem de Viana do Castelo para Barcelos.

A velocidade máxima permitida é de 50Kms/hora. Porém, quando não há veículos na estrada nem peões visíveis na berma, nenhum motorista pratica essa velocidade.

Então os “vampiros” da GNR saem de trás de uns arbustos e apontam o aparelho que lá esconderam, o qual mede a velocidade de cada veículo e regista a matrícula respectiva. Passadas umas semanas lá recebem os donos dos veículos a nota da multa que pode ir até uns mil euros.

Trata-se de uma “mina” para a corporação, nos dias de feira em Barcelos, pois muita gente nesse percurso se desloca à feira.


Autor: J. Barreiros Martins
DM

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16 dezembro 2017