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Recordando o “Mingos Cauteleiro”

Faleceu no passado dia 17 de Agosto Domingos Machado da Mota – o “Mingos Cauteleiro” – uma figura carismática dos anos 1960/70 da cidade de Braga. Nascido e criado na rua Gualdim Pais, freguesia da Sé, foi sempre um homem humilde e solidário, sempre disponível para ajudar os amigos e desconhecidos, sem nada pedir em troca! Nos anos 60 apaixonou-se e… passou a fazer parte da família do Bairro Araújo Carandá. Cedo se notabilizou pela sua extraordinária capacidade de servir e não servir-se. Foi presidente dos Leões do Carandá, sendo eu seu vice. Em 1963, quando ninguém conhecia os Leões de Carandá – só se falava da “Ilha da Ponte” pelos piores motivos –, o ABC, com sede na Rua do Souto, organizou um torneio de Futebol de Salão no ringue da Ponte, onde hoje se situa o pavilhão Sá Leite. Quando lá fomos inscrever os Leões do Carandá, recusaram liminarmente a inscrição porque eramos os pés descalços da Ponte. O Domingos Mota, Homem perseverante e de antes quebrar que torcer, resolveu o caso “metendo” o Senhor Arcipreste – o saudoso padre João de Barros – ao “barulho” e, dada a sua influência, foi a inscrição aceite, com a condição de não arranjarmos sarilhos… E não é que, nesse ano, fomos campeões numa histórica final com o Lomarense? E, como a cereja em cima do bolo, fomos galardoados com a Taça SIMPATIA! Troféu instituído pelo Senhor Dias, do Restaurante da Falperra. Não foi espantoso? Claro que os atuais dirigentes se esquecem destas e de outras proezas dos Leões do Carandá durante a presidência de Domingos Mota e não sabem das “voltas” que ele deu para conseguirmos estar nesse torneio. Foi um êxito extraordinário, que fez com que toda cidade nos passasse a olhar com respeito e admiração. Como os mais antigos se lembram – e os atuais dirigentes não se dignaram fazer-se representar no funeral de Domingos Mota –, foi uma época de Ouro em que o Bairro Araújo Carandá através dos Leões se projetou e saiu da “Ilha”. Quem não se recorda de, no fim dos jogos, irmos retemperar as forças para a Pastelaria Riviera? Das noites de Fado a partir da varanda da sede, que era um quarto alugado (pagávamos 50 escudos por mês!) onde vivia o José Becote? E dos tapetes floridos na Páscoa orientados pela mestria e desenhos do João Lira? E dos jantares de despedida aos imigrantes / jogadores dos Leões? etc. etc. Já naquele tempo também fazíamos a formação dos mais jovens do Bairro; como comprovam várias fotos desse tempo, mostrando os mais novos leoninamente equipados a rigor, no quintal da casa com o n.º 28, onde eu residia! O Domingos Mota morreu humildemente como sempre viveu no Bairro das Enguardas, com bastantes dificuldades económicas, mas sempre bem-disposto e alegre! Mas os atuais dirigentes dos Leões nunca se dignaram alguma vez prestar-lhe a homenagem/reconhecimento, mais do que devida. Disse Cícero: “Nenhum dever é mais importante que a gratidão”. Domingos Mota, eu e muitos antigos moradores do Bairro Araújo Carandá sempre te recordaremos com gratidão! Paz à tua alma.
Autor: José Augusto Azevedo
DM

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23 novembro 2017