Tratando-se de políticos, olha-se com mais preocupação para os efeitos da publicidade em vez de se agir de harmonia com os deveres da consciência
As pessoas que actuam no sector público da vida humana assumem, sempre, grandes e graves responsabilidades de ordem pessoal, social e moral. Estão, pois, sujeitas à crítica, ao julgamento da opinião pública. Isto implica duas realidades: a seriedade e a responsabilidade. E quem se pronuncia publicamente assume essa responsabilidade.
Importa, pois, que todo o cidadão esteja disposto e preparado para cumprir devidamente essa responsabilidade, mormente quando se expressa para o público.
Entre nós, os órgãos de informação olvidam, às vezes, ou muitas vezes, esta obrigação como se tem registado, por vezes, entre nós.
Acontece, porém, que, tratando-se de políticos, se olha com mais preocupação para os efeitos da publicidade em vez de se agir de harmonia com os deveres da consciência. E sentimo-lo no dia a dia.
Vejamos o silêncio intencional com que se escondem e depreciam os políticos que governam o País ou que militam em organizações que não são da sua feição.
Ouvimos, até, entre nós, a voz de comunistas que se mantêm obedientes às determinações que se lhes impõem e que ferem a democracia. Sem autoridade moral para se pronunciarem, fazem-no como função insubstituível da sua actividade política.
Entre nós, e no plano político, assistimos à ofensiva sistemática da “esquerda” contra o “centro” e a “direita”, ofensiva que se avoluma quando está no governo, actualmente em coligação.
Olvidam a natureza da democracia e o respeito que lhe é devido.
Chegou a tal ponto este “ódio” que a revolução de Abril nos primeiros tempos, em que o Partido Comunista tinha influência e poder de destruir tudo o que expressava a obra de Salazar, desde as escolas até à arte, destruindo o que publicamente havia sido construído em sua honra. O mesmo não aconteceu, nem na Espanha nem na Itália: Franco e Mussolini foram respeitados.
Na Espanha, os monumentos atestam a presença do político, desde o Vale dos Caídos, em Madrid, até Sevilha. E o primeiro-ministro do governo espanhol, governo que era socialista, declarou publicamente que não se tocava nos monumentos.
Entre nós, ainda hoje, na terra natal de Salazar, em Santa Comba Dão, o Presidente da Câmara não autorizou que ali se erga uma estátua ao conterrâneo.
Escrevemos tudo isto porque vamos referir-nos a um artigo objectivo, independente e muito oportuno que um oficial do Exército português escreveu no semanário “O Diabo” de 20 de Abril deste ano. Impressiona pela objectividade e pela verdade. A introdução ao artigo, da autoria de Brandão Ferreira, tenente-coronel, é clara.
Ei-la: «Existe, aparentemente, uma dualidade de vários cambiantes a nível nacional. Por exemplo, entre o mito e a realidade; entre a inveja e o desprendimento; entre o “Velho do Restelo” e o Infante D. Henrique; entre a traição e o patriotismo; entre Miguel de Vasconcelos e Nuno Álvares; entre nacionalismo e internacionalismo; entre maritimidade e continentalidade; entre cumprir as leis no estrangeiro e violá-las em casa; enfim (a lista podia continuar), entre o Bem e o Mal».
O artigo é intitulado: “Salazar versus Cunhal e o (des)norte da Pátria”.
Aos nossos leitores deixamos com antecipação o retrato dos dois: de Salazar e de Cunhal.
Do primeiro, de Salazar, diz: «foi um português de Lei que defendeu contra ventos e marés, intransigentemente, os interesses de Portugal contra amigos, adversá-rios, inimigos e, às vezes, até de si mesmo»; de Cunhal, diz: «defendeu toda a sua vida, objectivamente, os interesses de uma potência estrangeira – a URSS – e continua a defendê-los mesmo depois desta ter desaparecido».
Brandão Ferreira, ainda no desejo de informar devidamente os leitores, acrescenta: «Álvaro Cunhal foi sempre um homem, um político coerente e também parece que não há duvidas de que morrerá assim.
É capaz de ficar como epitáfio». «De Salazar podemos apreciar o valor da sua obra e a força das suas ideias, porque ele teve oportunidade de concretizar; de Cunhal podemos apenas imaginar o que ele poderia ter feito (e tivemos uma pequena prova nos idos de 74/75) e só podemos avaliar as suas teses pela lei que atravessa as paredes de vidro (fosco) do Partido».
O artigo de Brandão Ferreira aponta semelhança entre ambos e diz: «Os dois homens têm coisas em comum: têm origem humilde, subiram a pulso; têm superior inteligência: são íntegros no sentido em que nunca se aproveitaram da riqueza material em proveito próprio; foram duros, tenazes e persistentes, e não se pode dizer que o grau de coerência de Salazar fosse inferior ao de Cunhal.
Agora as semelhanças acabam aqui».
Brandão Ferreira expõe a seguir as dissemelhanças, o que veremos no próximo artigo.