Na sua edição de 3 de Março findo, o DM noticiou a realização de um encontro, no próximo dia 8 de Maio, em Estugarda, Alemanha, de mais de 150 movimentos cristãos – católicos, ortodoxos, evangélicos e anglicanos -, destinado a preparar a contribuição de todos na construção da unidade da Europa.
Pondo de lado os aspectos (sobretudo institucionais) que os dividem, aqueles movimentos eclesiais, numa iniciativa inédita que nos apraz registar, decidiram reunir-se para, em conjunto, reflectirem sobre os traços carismáticos que os unem e sobre a importância decisiva do seu conhecimento colectivo para a formação de uma verdadeira e completa cidadania europeia, aberta aos valores do humanismo, da fraternidade, da tolerância e do ecumenismo.
Numa nova Europa que se propõe trabalhar em favor da paz, da justiça e da solidariedade no mundo, é fundamental o papel das instituições religiosas, particularmente as cristãs de todas as confissões, cujos princípios e valores estão, justamente, na base da matriz espiritual e cultural do Velho Continente. Este complexo desafio não pode, pois, confinar-se à sociedade civil, sob pena de o esvaziar de uma das mais marcantes facetas da natureza humanas – a mística.
Perante o drama hodierno do fanatismo religioso, é fundamental que os Estados europeus, laicos ou com religião oficial, apoiem activamente o movimento ecuménico em curso e contribuam, através da educação, para o conhecimento recíproco das diversas religiões e das diferentes culturas, tal como promovem o ensino das línguas e literaturas estrangeiras. Só se pode amar e compreender o que se conhece.
Impedir o uso de símbolos religiosos nas escolas ou outros lugares públicos e banir dos currículos escolares as disciplinas de moral e religião é, sem dúvida, um mau caminho e uma atitude tão censurável e intolerante quanto aquela que é preconizada pelos regimes fundamentalistas religiosos.
Como repetidamente se tem dito e escrito, sob a capa da autonomia e da separação, o laicismo de alguns Estados ditos de Direito e democráticos esconde comportamentos verdadeiramente intolerantes e intransigentes, em tudo idênticos aos do fanatismo dos Estados teocráticos.
Por consequência, para que a Europa alargada do século XXI emirja como uma realidade política, coesa e unida, importa que os Estados-membros e os seus cidadãos, na estrita observância dos princípios, direitos e deveres que constituem a base constitucional da UE, aprendam a respeitar a identidade, a língua, a cultura e as tradições de cada um dos povos que a integram.
A diversidade, ao invés de ser considerada como um obstáculo à unidade dos povos, deve ser encarada como um dom com que a Divina Providência quis enriquecê-la e potenciá-la.
Nesta perspectiva, ganha plena utilidade e oportunidade a mensagem pascal do Senhor Arcebispo de Braga, interpelando os cristãos a “assumir a missão de colocar Deus na história dos homens”, à semelhança da lição redentora da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus Cristo.
Importa, pois, que cada um de nós, à luz do Evangelho e nos mais diversos campos de acção, contribua para tecer um quadro de relações fraternas entre os povos e culturas da Europa e entre estes e o resto do Mundo.
O combate à pobreza, à fome, à doença, à exclusão e à guerra tem, definitivamente, de ser assumido pelos europeus, em perfeita união, como uma tarefa colectiva e universal.
É com esta intenção que formulo votos dos maiores êxitos para o encontro de Estugarda que, naturalmente, nesta Páscoa, há-de estar presente nas nossas orações.